Um mês depois da tragédia que atingiu a região serrana do Rio de Janeiro, moradores de bairros bastante castigados ainda lamentam as perdas e dizem não acreditar nas dimensões da destruição.
No Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, os sinais das inundações e deslizamentos de terra ainda estão por toda a parte. Ao longo da Rodovia BR-495, que corta diversos bairros da região, tratores e caminhões trabalham para remover os montes de barro que foram arrastados pelas enxurradas. Alguns operários utilizam máscaras para se proteger da poeira. Árvores arrancadas, automóveis totalmente danificados e alguns móveis e eletrodomésticos cobertos pela lama ainda são vistos em algumas áreas.
Muitas casas ainda guardam as marcas da água, que derrubou paredes, destruiu muros, arrastou carros e provocou a morte de centenas de pessoas.
O caseiro José Henrique Moreira, de 71 anos, disse que não consegue esquecer a noite em que sua casa, próxima ao Rio Cuiabá, que transbordou com as chuvas, veio abaixo. Ele contou que só se salvou porque o neto, que morava com ele, acordou de madrugada para trabalhar e viu o que estava acontecendo. Antes que a força da água derrubasse o imóvel onde viveu por 30 anos, eles conseguiram sair, pela janela, e fugir para a casa do patrão, que não foi atingida porque fica na parte alta do terreno.
“Nunca vi uma coisa assim na minha vida. É muito triste e a gente não consegue esquecer. Tudo passa como se fosse um filme de terror pela cabeça”, disse ele, que foi encontrado pela reportagem da Agência Brasil lamentando a tragédia no terreno vazio e barrento onde antes ficava sua casa.
Do outro lado da rua, alguns imóveis, embora bastante danificados, ainda estão de pé. Pelas paredes é possível ver a que altura a água chegou: a cerca de dois palmos do teto. Em uma delas, conforme o caseiro contou, um casal conseguiu sobreviver flutuando em um colchão.
“Eles disseram que ficaram desesperados porque só viam a água subir e não sabiam até quando conseguiriam ficar em cima do colchão”, Lembrou emocionado.
Em outra localidade, conhecida como Buraco do Sapo, também às margens da BR-495, muitas casas foram inundadas. O aposentado Dirceu de Sá, de 75 anos, disse que nunca vai esquecer as cenas que viu.
“Sou nascido e criado aqui e nunca pensei em passar por isso. É muita destruição. Tem lugar que a gente nem sabe mais como era antes. A gente olha e só vê lama, terra. Isso aqui acabou tudo. Vai ser difícil esquecer.”
Em toda a região serrana do Rio, cerca de 900 pessoas morreram em consequência das chuvas e dos deslizamentos de terra. Em Petrópolis foram pelo menos 90.
Agência Brasil