Segundo alguns dicionários, “investimento” significa a aplicação de um capital (valor) visando receber um benefício futuro. Em outras palavras, o investidor é aquele que aceita abrir mão de algo agora para receber algo muito melhor depois. É um excelente negócio! Sempre que pensamos em investidores, nos vêm à mente os economistas que acumulam riquezas em apostas e em “bolsas de valores”. Mas não se engane: todos nós, de uma forma ou de outra, somos verdadeiros investidores.
Sim, o ser humano é essencialmente investidor. Quando um estudante de Direito passa cinco anos na faculdade, afundado em livros e “ralando” para honrar com as mensalidades, ele na verdade está investindo em uma futura e vantajosa função jurídica. Quando um jovem se submete a longas e monótonas aulas de piano, horas e horas por dia, somente o faz pensando em uma carreira como músico de sucesso. Do mesmo modo, as pessoas somente aceitam frequentar a academia de musculação todos os dias porque esperam obter um corpo mais bonito posteriormente.
Os investimentos podem ocorrer de diferentes formas: em dinheiro, em tempo, em trabalho ou até em afeto. Mas o essencial não muda em todo investimento: a pessoa sempre aceita abrir mão de algo agora em troca de uma expectativa futura. E é aqui que entra a principal reflexão deste texto: em que eu tenho gastado a minha vida? Tenho investido tudo em coisas passageiras?
Eu já tive a oportunidade de ler alguns relatos de sacerdotes que atenderam confissões de muitas pessoas na hora da morte. Todas estas narrativas são unânimes: as pessoas que passaram a vida preocupadas com a acumulação de riquezas ou de vaidades são aquelas que mais sofrem nas agonias finais, por finalmente perceberem o quanto são frágeis e passageiros os tesouros desse mundo. Não é à toa que os antigos costumavam lembrar que nos caixões não existem gavetas.
Porém, isso não é algo tão claro de se enxergar. Em um mundo encharcado de consumismo e modernismo, somos levados muitas vezes a embarcar em “investimentos” duvidosos, mesmo sem percebermos. Conheço pessoas que vivem para trabalhar, de modo que renunciaram até a ideia de casamento e filhos para se dedicar ao “futuro profissional”. Porém, é tudo muito mecânico e automático: trabalha-se para ganhar dinheiro; ganha-se dinheiro para conseguir conforto. Contudo, não há dinheiro ou conforto no mundo que compre a verdadeira paz na hora da morte! Será que não está aqui a causa de muitas depressões e homicídios? O próprio Cristo já advertia: “Que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida?” (Mc 8, 36).
O LOUCO INVESTIMENTO DA CRUZ
E aqui vem a proposta do texto. Não é uma proposta minha – que também tenho as minhas lutas para acertar nos “investimentos” –, e sim, do Deus feito homem: “Aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, a receberá de volta” (Mt 16, 25). Sim, irmão, nós temos facilidade de dedicar horas, dias e anos por coisas que futuramente irão passar, como uma carreira, um corpo bonito ou um conhecimento fútil. Pergunto: quanto tempo dedicamos (investimos) nas coisas que jamais passarão?
Vejo muitas pessoas que reclamam de dar uma hora por semana para Deus (na missa do domingo), entretanto, não fazem esforço algum para assistir 10 ou 15 temporadas de uma série qualquer. Pessoas que gastam imensas quantias em jogos, revistas ou perfumes, mas acham um absurdo devolver o dízimo ou ajudar na obra de alguma comunidade religiosa. Afinal, se um passatempo qualquer merece muito do meu tempo e da minha atenção, por que o Deus do universo (meu Criador) não mereceria alguns minutos de oração pessoal por dia?
Algum tempo atrás, baixei um aplicativo para medir quanto tempo por dia eu estava gastando no celular (entre mensagens, vídeos, notícias…); para a minha surpresa, eu estava investindo aproximadamente quatro horas todos os dias para aquele pequeno aparelho, sem nenhum esforço. Aposto que a maioria das pessoas não são tão diferentes. Percebi, então, que tudo era uma questão de prioridade: Será que não há mesmo tempo para Deus durante o meu dia? Como anda o meu cumprimento ao primeiro mandamento?
E lhe faço, amigo, esta proposta de autoexame: o quanto você tem investido no seu amor a Deus? A Santa Igreja ensina que a santidade é um organismo espiritual (“Graça Santificante”) que cresce dentro de nós conforme nos abrimos a esse crescimento. Logo, quanto mais me confesso, comungo, rezo e me entrego a Deus, mais essa santidade terá espaço para se desenvolver com a ajuda do Altíssimo. Quanto você tem investido neste tesouro que não passa?
É lindo ver que, nestes dois mil anos de Igreja, milhares e milhares de santos deram o exemplo de uma verdadeira entrega, fazendo aquilo que o “jovem rico” não teve a coragem de fazer (cf. Mt 19, 16-30). Um São Pedro que aceitou morrer; uma Santa Teresinha que insistiu para entrar no convento com 15 anos; um São Francisco de Assis que entregou até a roupa do corpo para se doar… E jamais se ouviu dizer que qualquer santo tenha se arrependido do seu investimento. Vale lembrar o que nos disse o Salvador: “Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3).
Que a Virgem Santíssima, a Mãe da Igreja, nos ensine a arte desse divino investimento!
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator