Atualmente, ocorrem aproximadamente 800 mil suicídios por ano no mundo, sendo essa a segunda principal causa de morte entre os jovens com idade entre 15 e 29 anos. O que será que leva as pessoas a abrirem mão desta dádiva magnífica que é a vida? As respostas a esta indagação são variadas e complexas, mas podemos resumi-las em uma única afirmação: muitas pessoas perderam o sentido da vida.
Questionar o sentido de algo significa buscar as razões sobre a importância daquilo. Por conta da sua racionalidade, o ser humano tem a necessidade de entender o porquê de ele precisar fazer ou passar por algo – especialmente as coisas mais difíceis.
Porém, é preciso que nós compreendamos o seguinte: o grande problema não está em sofrer, mas sim em sofrer sem uma boa causa. Vamos a exemplos: muitos sofrem com os estudos pesados, mas não se importam com isso ao pensar que no futuro terá valido a pena. Há pessoas que se desgastam no trabalho, mas fazem isto sabendo que receberão o salário suficiente para sustentar sua família.
Do mesmo modo, há mães que sofrem ao lado dos filhos doentes durante a madrugada, mas sabem que estão fazendo isto por algo que amam. Portanto, todo sofrimento é suportável quando encontramos um sentido relevante. Esta é a grande razão pela qual os mártires derramavam seu sangue muitas vezes com o sorriso no rosto: aquele sofrimento não era em vão, mas direcionado ao maior dos Sentidos!
A experiência de um especialista
Um tempo atrás, eu li um livro extraordinário escrito pelo neuropsiquiatra Viktor Frankl – “Em busca de sentido”, livro este que mudou muito a minha perspectiva com relação ao sofrimento e ao sentido da vida. Frankl viveu no século passado e experimentou na própria pele o terror da perseguição nazista: como era judeu, foi mandado com sua família para campos de concentração.
Posteriormente, Viktor Frankl viria a descobrir que a maior parte dos seus parentes (incluindo sua jovem esposa) haviam morrido em meio aos tormentos daqueles campos. Ele narra com riqueza de detalhes diversas situações vexatórias que sofreu, incluindo fome, doenças, torturas, trabalho escravo e todo tipo de humilhação – de modo que não era raro ver seus amigos morrendo na sua frente.
A experiência vivida por Frankl é muito difícil de ser descrita. Porém, naquela situação terrível, ele descobriu uma ótima oportunidade de estudar melhor o ser humano. E, vejam que interessante, ele percebeu que, na luta pela subsistência, um elemento era fundamental: o sentido da vida.
Deste modo, os homens que mantinham em mente um motivo para lutar (como, por exemplo, uma esposa esperando lá fora, ou uma missão que precisavam desempenhar) costumavam sobreviver por muito mais tempo do que aquelas pessoas que perdiam o sentido e as esperanças – ainda que estes últimos fossem fisicamente mais fortes.
Descobrir o sentido da vida
Viktor Frankl descobriu então que, se as pessoas conseguissem encontrar um bom motivo para lutar (ou seja, um sentido para sua existência), elas conseguiriam vencer qualquer trauma ou sofrimento. Com base nisso, ele criou um método terapêutico chamado “Logoterapia” (“logos” significa sentido, em grego) – por meio do qual ajudou milhares de pessoas.
Minha frase preferida de todo o livro é a seguinte: Quem tem um “porquê” enfrenta qualquer “como”. De fato, não importa o sofrimento que se imponha na vida do cristão, ele sabe que Deus nunca lhe permitirá um peso superior às suas forças (cf. I Cor 10, 13).
A ressurreição passa pela cruz
Alguns pregadores costumam dizer, com bastante humor, que Jesus Cristo era um péssimo marqueteiro (ou seja, não sabia fazer uma “boa propaganda”). É lógico que isso é apenas uma brincadeira, mas tem um significado real: quando uma pessoa tenta te vender um produto, ela insistirá em te mostrar o lado positivo e esconderá todos os aspectos negativos. Isso é puro marketing.
Jesus, por outro lado, não escondeu os “aspectos negativos” de ninguém. Desde o início, ele afirmou que os seus seguidores precisariam assumir sua própria cruz dia após dia (cf. Lc 9, 23) e que, assim como ele, não teriam lugar onde descansar a cabeça (cf. Mt 8, 20). A verdade é que Cristo nunca quis enganar ninguém!
Significa, então, que não existe nenhuma garantia de que você terá uma vida sem sofrimentos – mesmo dentro da Igreja e seguindo fielmente os mandamentos. As dores, o luto e as tragédias são inevitáveis para todos nós, sejamos cristãos ou não. Porém – e isso aqui é fundamental –, Cristo nos presenteou com o sentido da vida.
Ou seja, para o cristão nenhum sofrimento é perdido ou sem sentido, porque Deus colhe cada uma das nossas lágrimas e nos prepara um prêmio incomparável no céu. É justamente por isso que Jesus proferiu aquele ensinamento tão consolador: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! (…) Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 4-12).
O amor de Deus é o sentido por excelência
Certa vez, Jesus apareceu diante de Santa Catarina de Sena e trazia “presentes” bastante incomuns: em uma das mãos, Ele possuía uma coroa cheia de brilhantes e de joias, enquanto na outra havia uma coroa de espinhos. Cristo, então, fez a seguinte proposta para a santa: “Filha, deverás usar estas duas coroas, uma em seguida da outra. Usarás a coroa de espinhos enquanto viveres neste mundo, para receberes a de pedras preciosas na eternidade, ou preferes usar a coroa de pedras preciosas nesta terra, e depois receber a de espinhos no outro mundo? Faça sua escolha”.
Diz a biógrafa que a santa agarrou imediatamente a coroa de espinhos e a colocou sobre a cabeça. E o fez de forma tão ansiosa que as pontas acabaram penetrando sua carne, deixando marcas visíveis. Porém, isso é o magnífico: Santa Catarina sabia que aquele terrível sofrimento não era nada se comparado com o sentido que possuía.
Nosso objetivo
O objetivo deste texto não era mencionar a existência de uma “fórmula mágica” para acabar com o sofrimento neste mundo – e, se este era seu objetivo, querido amigo, me desculpe. No entanto, a minha grande intenção era demonstrar que existe um sentido supremo pelo qual podemos batalhar e suar sangue, se for preciso: o Reino dos Céus, na presença do Deus Altíssimo.
Lá no céu, sim: só haverá alegria e festa! “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque passou a primeira condição” (Ap 21, 4). Por este paraíso vale a pena suportar tudo, até as mais terríveis injustiças e perdas. Este é o sentido de toda a esperança cristã.
Que a Virgem Santíssima, Mãe do Cristo Pantokrator, nos ajude a manter os olhos fixos na eternidade e na coroa da glória!
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator