Quais são as suas prisões?

Pense em uma prisão. Deixe vir à mente tudo que essa referência possa trazer à tona. Como se sente? Quais emoções emergem interiormente a partir dessa reflexão?

Estranho exercício para se começar um texto, não acham? Pois bem! Esse é o objetivo mesmo, despertar em você, meu caro leitor, esse sentimento estranho, talvez um certo medo ou angústia ao pensar em algum tipo de prisão. Quis chamar atenção para isso, pois gostaria de falar sobre nossas prisões interiores, sobre coisas que aprisionam nossa alma, nos impedindo de vivermos com a liberdade que sonhamos e que o próprio Deus nos deu.

São João da Cruz tem uma frase sublime que diz o seguinte “Pouco importa se o passarinho está com um fio grosso ou fino, ele ficará sempre preso e não poderá voar.” Percebam a profundidade dessa frase. Pensem nesse pássaro criado para ganhar o céu voando livremente e está preso a um fio finíssimo, quase invisível. Ele tenta voar e está preso. Coloque-se no lugar desse pássaro. Qual o fio ou a corrente, ou pior ainda, a gaiola que tem te aprisionado?

É possível que você seja uma pessoa virtuosa, bondosa, mas será uma pessoa livre verdadeiramente? É preciso sempre refletirmos sobre onde estão alocados nossos afetos, onde descansamos nosso coração. Para ficar mais claro e ilustrar o que quero dizer, contarei uma pequena história.

Dizem que num mosteiro havia um monge virtuosíssimo, com uma vida toda doada, que se fazia pobre em tudo. Dormia no chão se preciso fosse para dar a cama para algum irmão recém-chegado. Sempre dividia tudo. Sua rotina era passar o dia em oração e no trabalho sempre disponível para o que precisasse. À noite, em sua cela, tirava seu hábito simples e pendurava num prego que tinha na parede da cela. Era a única coisa que havia no quarto, pois todas as outras ele já havia se despojado em prol dos irmãos. Certo dia, mudou o prior do mosteiro e ficou sabendo das virtudes desse monge, especialmente sua vida despojada e pobre, que era exemplo para todos. O prior então, para verificar as virtudes do tal monge, pediu para que tirassem o prego da parede da cela do monge. E o monge, chegando à sua cela no seu ritual diário de pendurar o hábito no prego, foi surpreendido pela falta do prego. Ele ficou encolerizado e saiu da cela gritando por todo o mosteiro à procura de quem havia tirado o prego. Bom, nem preciso dizer que a moral dessa pequena história está no fato de o monge ser um pássaro preso por um fio (ou um prego, no caso dele).

Virtudes e despojamento 

Vejam! De que adiantava ele ser tão virtuoso e despojado e, no fim das contas, apegado a um prego na parede?

Esse monge poderia ser qualquer um de nós, tão apegados a ninharias, coisas passageiras que nos mantêm aprisionados e nos impedem de viver uma vida plena e feliz à qual somos destinados pela graça de Deus.

Foi para a liberdade que Cristo nos libertou, mas a concupiscência do pecado em nós insiste em nos aprisionar a pequenas coisas passageiras para nos afastar da verdadeira união com Deus.

Assim como o jovem rico, nossa tentação é a mesma de voltarmos entristecidos para casa por sermos muito ricos. Por nos acharmos possuidores de muitos bens. Mas o que pode ser tão valioso quanto nossa vida com Deus? Será um prego velho, mais valioso que a fraternidade, a paciência com nosso próximo?

Mesmo sabendo que somos destinados às alturas, temos a péssima tendência de ficar olhando para o que é deste mundo, apegados, presos às nossas dores, nossos sofrimentos, nossas necessidades, nossos amores, enfim, preso a qualquer fiozinho medíocre que nos impede de confiar e abandonar nossa vida no único que deveremos realmente deixar comandar nossa vida.

Sabe que a coisa mais legal nessa história toda é que não somos passarinhos, somos gente. Somos filhos amados de Deus, dotados de ferramentas maravilhosas para cortar os fios, quebrar as correntes, derrubar muralhas que possa nos impedir de chegar a intimidade com Deus. Pela graça do batismo, recebemos essa fortaleza, sabedoria para escolher entre ficar preso aos afetos passageiros ou cortar isso e deixar nossa alma voar livremente para o Céu, que é nosso destino no fim das contas.

Peçamos ao Espírito Santo essa graça e a Virgem Santíssima que nos acompanhe nesse caminho de purificação dos apegos afetivos que temos rumo à união livre e sem barreiras com Deus.

Deus abençoe.

Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator 

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