Se um dia alguém quiser medir o tamanho e a importância da Igreja Católica não deverá procurar em suas belas obras de arte, e nem nas supostas “riquezas” dos templos; também não deverá se basear no número de devotos, nem se ater à gigantesca Biblioteca do Vaticano. O que torna a Igreja rica, poderosa e surpreendente é, simplesmente, a vida dos seus santos! Sim, a santidade resume tudo: ela é a vontade de Deus para todos os seus filhos, é o objetivo dos sacramentos e o motivo do ódio dos inimigos… Jesus Cristo escandalizou o mundo com a sua palavra e com o seu amor incondicional. E esta é a grande novidade do Cristianismo: temos a possibilidade (com a ajuda da Graça) de sermos configurados à divina pessoa do Mestre. Em outras palavras, os santos são novos “Cristos” moldados pela Igreja.
DEUS NOS QUER SANTOS
Costumava existir uma “corrente de pensamento” entre os cristãos – principalmente antes do Concílio Vaticano II – que limitava o alcance da santidade. Tal corrente afirmava que a santidade não era coisa para todos, mas apenas para alguns “privilegiados” escolhidos por Deus. Segundo este pensamento, a maior parte das pessoas não conseguiria alcançar o cume da caridade porque o próprio Deus não as havia escolhido. É evidente que isto não é verdade, de modo que a história da Igreja desmente cabalmente esta heresia.
Aqui entra a importância gigantesca de conhecer muitas e muitas biografias de santos. Não digo apenas conhecer um ou outro milagre, ou saber “qual é o santo disso ou daquilo”. Refiro-me a contemplar a vida, os desafios, as mudanças e testemunhos destes heróis do cristianismo. Eu conheço inúmeras pessoas que se converteram graças ao exemplo de algum santo. Não se trata de considerar os santos como “deuses” – acusação muito usada contra nós, católico –, muito pelo contrário, trata-se de perceber que a Graça divina tem o poder de transformar barro sujo em ouro puro.
EXISTE UMA RECEITA PRONTA DE SANTIDADE?
Quando eu era pré-adolescente, senti um desejo muito forte de ser um “santo de calça jeans” (conforme aquele poema atribuído a São João Paulo II, que ficou bastante conhecido). Decidi, então, buscar a receita pronta desta santidade. “Simples”, eu pensava, “deve haver algum comportamento típico em todos os santos, algo que todos eles possuem em comum”. Porém, é aqui que a minha busca ficou bastante confusa. Eu vi que muitos santos eram sacerdotes ou, ao menos, religiosos, como um São Padre Pio ou um São João da Cruz. Então pensei: “Encontrei a solução, preciso ser padre!”. Porém, logo encontrei muitos outros que viviam uma esplêndida vida secular, como Santa Gianna Molla (médica) e São Thomas More (advogado).
Eu continuei minhas pesquisas e descobri que havia muitos santos missionários de terras distantes, tais como São Francisco Xavier e São José de Anchieta. Mas a “receita” ainda não era esta, já que muitos outros se dedicavam ao seu próprio povo, como um São João Bosco ou uma Santa Catarina de Sena. Até cogitei que o “segredo” pudesse ser o estudo e a erudição, olhando um Santo Tomás de Aquino ou um São Boaventura, mas aí encontrei figuras com menos cultura, porém com igual santidade, como um São Cura D’Ars.
E quanto mais eu procurava, mais me deparava com “contradições” entre os santos: Santo Inácio de Loyola era marcado com uma grande seriedade, um verdadeiro “Soldado de Cristo”, ao passo que São Felipe Nery não se levava a sério e vivia tirando sarro de si mesmo. Descobri que havia santos com uma vida reta desde a infância (como Santa Teresinha ou Santa Gemma Galgani), ao passo que outros tiveram uma vida recheada de pecados antes da conversão (casos de Santo Agostinho e de São Dimas, o “bom ladrão”). Alguns se destacaram pela sua potente pregação, como Santo Antônio ou São João Crisóstomo, enquanto outros foram notáveis em sua caridade para com os pobres, como São Francisco de Assis ou São Vicente de Paulo.
O SEGREDO É O AMOR
Foi aí que eu percebi que não adiantava procurar a “receita” nos aspectos externos. Havia, sim, algo em comum em todos os casos, e estava o tempo todo na minha frente: todos os santos possuíram um ardente amor por Jesus Cristo. Esta é a chave de compreensão da santidade: eram todos pessoas comuns, como eu e você, mas que colocaram Deus no centro de tudo aquilo que faziam. Apesar das fragilidades humanas (existentes em todos os “bem-aventurados”), eles se deixaram moldar pela Graça e se tornaram potências nas mãos do Senhor.
É verdade que é possível identificar outras “coincidências” entre os santos: todos amavam à Santíssima Virgem, todos eram fiéis aos ensinamentos e dogmas da Igreja, todos possuíam vida de oração. Porém, tais condutas são consequências lógicas de um verdadeiro amor à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os Evangelhos estão repletos de indicações desta “receita infalível”: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).
NÓS TEMOS VÁRIOS “MAPAS DO TESOURO”!
Conhecer a vida dos santos é fundamental para percebermos que a Graça age sempre, não importa o contexto, o lugar ou a personalidade da pessoa. Para quem é ainda um simples adolescente, basta investigar a vida de Santa Maria Goretti e São Domingos Sávio, que morreram, respectivamente, aos 11 e aos 14 anos. Para quem é casado, a Igreja apresenta São Luís e Santa Zélia Martin, pais de Santa Teresinha e que foram canonizados em 2015. Se você é muito agitado e proativo, veja o que foi São Bernardo de Claraval no século XII! Mas se você é quieto e resguardado, basta voltar os olhos para o silencioso (e glorioso) São José.
A Igreja de Cristo é riquíssima! Existem santos de todas as épocas e de todos os lugares. Uns sofreram uma perseguição sangrenta (como no Império Romano), enquanto outros sofreram perseguições veladas (como na atual cultura anticristã). Uns foram verdadeiros místicos – como Santa Teresa D’Ávila, que flutuava durante as orações –, enquanto outros foram extremamente fiéis em uma vida ordinária (como Santa Madre Teresa de Calcutá).
Conhecemos santos que foram poderosos diante dos homens, como um São Luís IX (rei da França); bem como outros que não possuíam sequer o que comer, como um São Bento José Labre (conhecido como o “Mendigo de Deus”). A Igreja te oferece modelos desde Santa Rita de Cássia, na sua humildade e escondimento, até Santa Joana D’Arc, que comandou um exército e salvou seu país.
OS SANTOS SÃO HOMENS COMO NÓS
Ao lermos sobre a vida destes “amigos de Deus” descobrimos que eles também possuíam dificuldades e tentações diárias; que eles também atravessavam momentos de “aridez” na vida de oração; e que eles também precisavam dominar suas paixões humanas. Afinal, todos os santos eram tão humanos quanto eu e você.
Isto deve nos servir como incentivo e como itinerário. Os santos são a comprovação autêntica de que o cristianismo funciona! Ler a vida dos santos é ler o Evangelho aplicado na prática. É perceber que existe um tesouro muito maior do que este mundo material, e que tantos o souberam enxergar ainda nesta vida.
Se você se encontra perdido em uma floresta é conveniente que tenha um mapa, através do qual saberá por onde prosseguir. Do mesmo modo, se estiver brincando de “caça ao tesouro”, terá muito maior facilidade de alcançar o objetivo se tiver o apoio de um mapa ilustrado. Pois bem: não desperdicemos a oportunidade de aprender com estes ricos e detalhados “mapas”, que são as vidas dos santos, a fim de que encontremos com maior facilidade os atalhos que conduzem ao céu.
Que a Virgem Santíssima, a Rainha de todos os santos, te conduza sempre nesta trilha!
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator