Algumas semanas atrás, a Congregação Para a Doutrina da Fé, com o aval expresso do Papa Francisco, declarou aquilo que todos já sabiam: “A Igreja não pode abençoar uniões entre pessoas homossexuais”. Tal afirmação não é nenhuma novidade, uma vez que a Doutrina Católica ensina isso há 2000 anos. Ainda assim, surgiram inúmeras vozes trazendo aquele velho questionamento: “Quando a Igreja irá se modernizar?”; “Por que os católicos insistem em ser retrógrados?”; “Quando o cristianismo irá aceitar a evolução dos tempos?”.
Por incrível que pareça, estas exclamações revolucionárias têm sido repetidas, muitas vezes, por pessoas que se consideram católicas! As reinvindicações giram em torno dos mesmos pontos: “A Igreja deveria rever sua posição com relação ao aborto”; “A Igreja deveria relaxar um pouco mais a sua moral”; “A Igreja deveria ordenar mulheres ao sacerdócio” … E outras centenas de pautas neste sentido.
A Igreja não é uma democracia
O que muitas pessoas não compreendem, porém, é o fato de que a Igreja não tem o poder de mudar muitas coisas. Vamos usar um exemplo simples: Imagine que um homem muito rico precise viajar para o estrangeiro e resolva deixar sua mansão e todos os seus bens sob os cuidados do seu mordomo de confiança. O patrão deixa instruções muito claras sobre tudo e diz que irá voltar a qualquer momento.
Pergunta: Poderá o mordomo fazer todas as mudanças que achar interessante? Será que ele poderá pintar as paredes da mansão de rosa-choque, transformar a sala de visitas em uma boate ou gastar toda a fortuna do patrão em festas com seus amigos? Ou melhor: será que todos os empregados da casa poderiam se reunir e decidir, pelo voto da maioria, o que fariam com os bens que não lhe pertencem?
É evidente que o exemplo utilizado é bastante exagerado, mas serve como uma luva nesta questão que estamos abordando. Troque os papéis: o patrão é nosso Senhor Jesus Cristo; o mordomo é o Papa; a mansão é a Igreja; as regras deixadas pelo patrão significam a doutrina moral da Igreja. Perceba-se que o Papa, os bispos ou qualquer outra pessoa não poderia alterar tudo o que quisesse, justamente pelo fato de que a Igreja pertence a Deus, e não aos homens!
Muitas pessoas caem no erro de pensar que a Igreja criou os mandamentos, a moral e os dogmas de fé. Contudo, ocorre justamente o contrário: a Igreja é serva da vontade do Altíssimo. Quando nós dizemos que a Doutrina Católica é infalível, não estamos afirmando que o Papa é perfeito e pode fazer o que quiser; não! Significa que toda vez que o Papa declara uma verdade revelada, não é a humanidade dele que está escolhendo, mas o próprio Espírito Santo que o está utilizando como instrumento para dizer algo que vem do céu. E o Espírito Santo não é contraditório.
Modernidade e verdade nem sempre andam juntas
No início do século passado, muitos filósofos e intelectuais bateram no peito e exclamaram que aquele seria um século perfeito. Afinal, a ciência estava avançando em ritmo acelerado, os países estavam se modernizando, as “novas doutrinas” estavam combatendo as crenças religiosas… Ou seja: o mundo estava em pleno progresso! Todavia, hoje nós sabemos que o século XX foi terrível em muitos sentidos: tivemos duas guerras mundiais, criação da bomba atômica, elevação do Nazismo e milhões de mortos por regimes totalitários.
É curioso notar que a humanidade encontrou seu maior caos no momento em que se considerava mais próxima da “perfeição”. Porém, parece que ainda não aprendemos a lição. Muitos acolhem as ideias “modernas” como símbolo do progresso e como algo indiscutível. As pessoas não param para pensar que, pouco tempo atrás, a escravidão era vista como algo “moderno”, bem como o assassinato de judeus!
Aqui está a grande sabedoria da Igreja! Todos os ensinamentos deixados por Nosso Senhor podem ser considerados eternos, ou seja, nunca perderão a sua “modernidade”. Há dois milênios a Igreja Católica prega coisas como a defesa da vida, o amor aos inimigos, o perdão aos ofensores e a justiça entre os homens. De repente, uma multidão de pessoas resolve se manifestar exigindo que a Igreja renuncie às Verdades Eternas para acolher loucuras que foram criadas há 15 minutos – simplesmente sob o fundamento de que “a Igreja precisa se adaptar aos tempos atuais”.
A Igreja nunca foi tão atual!
Não há dúvidas de que vivemos um momento de combate. É cada vez mais difícil falar do Evangelho ou sobre os princípios cristãos. Mas o extraordinário apóstolo São Paulo já alertava sobre isso no início da Igreja: “Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (2Tm 4, 3-4).
É justamente por essa razão que precisamos nos fixar com ainda mais empenho na Doutrina Católica! Não estamos nos firmando em ideias meramente humanas, mas na verdade proferida pelo próprio Deus!
Cabe agora tomar posse desta realidade. De um lado, Deus lhe oferece a verdade, enquanto de outro, o mundo lhe oferece a “modernidade”; de um lado, o Senhor lhe apresenta aquilo que é realmente belo, enquanto de outro, o mundo lhe oferece aquilo que está na moda; Cristo lhe apresenta a cruz que levará à Vida Eterna, enquanto o inimigo lhe apresenta a “vida louca” que levará você à morte definitiva.
Se o mundo odeia tanto a Santa Igreja, é justamente pelo fato de que a Igreja é o remédio para os males da humanidade. A verdade e a mentira não podem ocupar o mesmo lugar; e por isso a sã doutrina da salvação é vilipendiada e tratada como ultrapassada, retrógrada e medieval. Que nós possamos, então, lutar pela verdade e defendê-la a qualquer custo.
Que a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja, seja nossa mestra e proteção nesta batalha.
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator