O que pedimos em nossa oração?

Proponho uma breve reflexão sobre a oração de súplica, as petições que fazemos a Deus:  o quê temos pedido e como temos pedido.

Costumamos orar com a expectativa de que Deus nos atenda da maneira que desejamos, e quando isso não acontece, achamos que não fomos atendidos. Porém, Ele sempre nos ouve e nos atende, mesmo que não entendamos Sua resposta.

O que quero partilhar é um pouco de minha experiência pessoal, observações e estudos na área do desenvolvimento humano e espiritual.

Quero trazer aqui uma ideia que coloquei no primeiro livro que escrevi¹: que nossa vida é fruto de nossas escolhas. Deus nos deu o livre arbítrio, nos deu a liberdade valiosíssima para que pudéssemos amar de verdade. Isso é tão forte e tão íntimo que toca todas as dimensões de nossas vidas. 

Nós não percebemos de forma clara, muitas vezes, que o tempo todo fazemos escolhas. Vamos vivendo a correria ou a apatia dos dias como se estivéssemos no modo automático, sem nos perceber de verdade, sem nos dar conta de que isso também é nossa escolha.

Sim, há coisas que não podemos controlar ou escolher, como nossa família de origem, lugar que nascemos e a resposta íntima de uma outra pessoa diante da vida; porém, podemos escolher qual será nossa postura diante dessas realidades.

No campo de concentração havia milhares de judeus na mesma situação, porém uns foram santos e outros não, uns desistiram e outros lutaram… nenhuma situação tem o poder de definir uma pessoa; a pessoa é sempre maior do que a situação que ela vive e pode muda-la.

Sabemos que Deus não é um mágico e nem um ídolo. Deus é Deus! Isso quer dizer que Ele não Se deixa manipular por nada, não nos engana e não Se engana, como nos lembra Sto. Agostinho.  Ele não é um ídolo que se adora para obter-se algo em troca, nem um botão que apertamos quando queremos resolver um problema. Deus é uma Pessoa que nos ama infinitamente mais do que nós nos amamos e é atento à nossa oração.

Nas Sagradas Escrituras há inúmeros relatos de como pedir algo a Ele. Precisamos querer de verdade e insistir, para provar que queremos o que pedimos. 

“Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. À quem bate, abrir-se-á.” Mt 7,7

O problema é que muitas vezes pedimos errado e queremos receber o certo. Precisamos ajustar nossa oração. Para ilustrar, podemos usar um exemplo: Uma pessoa está passando uma situação difícil com seu filho rebelde e quer a solução desse problema, porém pede a Deus que a ensine a lidar com a situação ou que a ajude a suportar esse filho ou que converta o filho. Percebe que em todos os pedidos ela se manteve na situação? Se Deus der a ela a força para suportar, ela se mantém na situação, se Ele a ensinar a lidar, ela se mantém na situação e se colocar a solução na conversão do filho, igualmente, porque ela não tem controle disso e de quanto tempo levará para que se converta. A resposta mora dentro dela, não fora, não no filho, e em nenhum momento ela pediu uma solução efetiva.

O problema existe para ser resolvido, não para ser “lidado”. Quanto mais buscamos nos acomodar nele, mais ele vai nos envolver e crescer, porque o estamos alimentando. Quanto mais ficamos pensando nele, mais damos espaço para que ele cresça, quando a solução, tantas vezes, está em usarmos nossa razão e imaginação para nos distanciarmos emocionalmente dele e olharmos “de fora” qual sua real dimensão e gravidade.

Se é um problema que não pode ser resolvido no momento, ao menos posso mudar minha postura diante dele.

No exemplo acima, a pessoa já se perguntou o motivo da rebeldia do seu filho? Já o ouviu de verdade? Já se questionou sobre sua postura diante do filho? O que ela faz que provoca a rebeldia ou o que deixa de fazer? O problema que temos que resolver nunca está no outro ou é o outro, pode sim envolver o outro, mas ele é sempre nosso. É nossa responsabilidade resolvermos.

A vida pode ser mais leve

Deus quer saber o que realmente queremos. Se, no caso acima, a pessoa insistir na oração em pedir forças para suportar a situação, Deus com certeza dará, porque no fundo ela está escolhendo se manter ali, e Deus respeita nossas escolhas. Se pedir pela conversão do filho, Deus com certeza ouvirá, porém o quando e o como não dependem da pessoa. A oração será mais eficaz se ela pedir sua própria conversão, sua própria cura, a graça de um genuíno autoconhecimento. Deus ali derramará Sua misericórdia, porque encontrará uma alma humilde, que reconhece suas limitações e pecados, e a solução daquele problema será uma consequência inevitável de sua própria transformação.

Passe mais tempo com a vida do que com o problema. Dê mais espaço e tempo ao louvor, à ação de graças, aos sonhos, às coisas que te alegram e realizam. Afazeres todos temos, façamos bem feito o que precisa ser feito, mas não nos acumulemos de pequenas tarefas inúteis que só nos desviam do que é essencial em nossas vidas.

Quando formos pedir algo a Deus em oração, consultemos nossas motivações antes, pensemos no que estamos pedindo e peçamos com fé, porque Ele sempre nos atende!

¹ O Espelho do Monge

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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