Você sabe o que significa o “Natal de Santa Teresinha”? Sabe o que ele pode nos ensinar?
Para entendermos o Natal de Teresinha, precisamos primeiro entender um pouco de sua história de vida. Teresinha perdeu sua mãe com apenas quatro anos de idade. Logo depois, ela se apegou à sua irmã Paulina, adotando-a como mãe. No entanto, essa irmã entra para o Carmelo num curto período de tempo. Podemos dizer que Teresinha, psicologicamente falando, perdeu a mãe por duas vezes. Estes são apenas alguns relatos de traumas psicológicos que Teresinha passou; mas, se formos estudar com mais detalhes, teremos muitas outras situações que poderiam colocar Teresinha numa situação de vitimismo, tristeza e fracasso, obviamente ela não seria uma santa e doutora da Igreja.
O relato do Natal de Santa Teresinha
Antes de Teresa relatar o milagre de Natal, no seu livro “História de uma Alma”, ela confessa como via sua própria alma: “A minha extrema sensibilidade fazia que eu fosse verdadeiramente insuportável e rebelde a todas as razões que me davam para me corrigir de tão ruim defeito” (Capítulo V). Pois bem, vemos que ela era muito sensível e imatura; mesmo reconhecendo esse defeito, não conseguia mudar.
O pai de Santa Teresinha, São Luís Martin, costumava colocar presentes de Natal para Teresinha dentro de sapatos de fronte com a lareira. Entretanto, como no Natal de 1886 Teresinha já estava ficando moça, seu pai preocupava-se com seu amadurecimento. Pela providência de Deus, São Luís desabafou sobre essa situação com Celina. Teresinha escutou enquanto subia as escadas em direção ao seu quarto. Disse Luís: “Para uma mulher já feita, como Teresa, isso são brincadeiras demasiado pueris: espero que seja o último ano” (HUA, Capítulo V).
Nesse momento, tudo estava favorecendo para que Teresinha começasse a chorar e entrasse num ciclo de vitimismo, tristeza e derrota. Entretanto ela mesma relata: “Mas Teresa já não era a mesma… Jesus trocara-lhe o coração!” (HDUA, Cap. V). Ela engoliu o choro, desceu as escadas e abriu seus presentes com alegria, sem apresentar nenhum tipo de insatisfação. Ela relata: “Nessa noite abençoada, Jesus trocou a noite da minha alma por torrentes de luz. Ao revestir-se por meu amor da fraqueza e pequenez mortal, encheu-me de fortaleza e coragem, e empunhando assim as suas armas, fui caminhando de vitória em vitória, dando, por assim dizer, princípio a um caminho de gigante”.
A história nos fala
Uma coisa que fica evidente no milagre de Natal é a iniciativa de Teresinha: ela “engole o choro” e, dando esse passo, ela se abre para a graça abundante de Deus. Quantas vezes em nossas vidas temos a oportunidade de engolir o choro e nos abrir à graça de Deus? Mas quantas vezes desperdiçamos a oportunidade, caindo em um vitimismo, buscando encontrar um culpado, deixando-nos levar por inveja, tristeza; enfim, seguimos o caminho de fechamento para a graça abundante de Deus?!
Não podemos viver uma “fé de escassez”, querendo reter, querendo primeiro encher nossa barriga e, se sobrar, damos para o próximo… Não foi isso que Jesus nos ensinou! Quando faltou comida para mais de cinco mil homens, Cristo se impõe aos seus discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16) e, sem questionar, os discípulos obedecem; é depois do ato de obediência que o Senhor realiza o milagre da multiplicação e torna aquilo que era escasso, cinco pães e dois peixes, na abundância, que alimenta a todos e ainda sobram doze cestos.
Teresinha tinha a “escassez emocional”, era extremamente sensível. Entretanto, ela se abre para abundância divina e recebe o milagre.
E você, meu irmão, minha irmã? Onde está sua escassez? Onde você está retendo? E se esquivando? Procurando culpados? Que Santa Teresinha interceda por nós neste Natal de 2020, para que nós não nos enveredemos pelo caminho óbvio da escassez, mas tenhamos fé e nos abramos à abundância de Deus!
Lucas Sturion
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator