Um missionário que não começa o sendo no coração não pode ser um verdadeiro
missionário. Antes de ir aos quatro cantos do mundo para anunciar a Boa Nova de Cristo para os pecadores, é preciso que o coração esteja mergulhado no desejo ardente de Cristo pelas almas. Sem isso, nenhuma das suas obras frutificará. O verdadeiro missionário é aquele que passa a sentir junto de Cristo o Amor que Ele tem para com Seus filhos, e até mesmo o mais simples do seu existir é voltado para fazer mais e mais pessoas conhecerem esse amor.
Santa Teresinha fez essa descoberta cedo em sua juventude. Ela escreve: “Num domingo, ao olhar uma foto de Nosso Senhor na Cruz, fiquei impressionada com o sangue que caía de uma das suas mãos divinas. Senti grande aflição pensando que esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Resolvi ficar, em espírito, ao pé da Cruz para receber o divino orvalho que se desprendia, compreendendo que precisaria, a seguir, espalhá-lo sobre as almas… O grito de Jesus na Cruz ressoava continuamente em meu coração: ‘Tenho sede!’ Essas palavras despertavam em
mim um ardor desconhecido e muito vivo… Queria dar de beber a meu Bem Amado e sentia-me devorada pela sede das almas…” (História de uma Alma, Manuscrito A). Foi assim que, mesmo vivendo a vida presa em um Carmelo, Teresinha se tornou a Padroeira das Missões.
Seu coração foi tomado pela sede de almas que o Crucificado sentia, e a partir disso todas as suas ações passaram a ser em favor da construção do Reino de Deus. Santa Teresinha colocou toda a sua vida como instrumento de missão, se permitindo ser usada por Cristo com a oferta do seu viver. Todo seu mais pequeno gesto de amor era em função deste apelo. Se tudo é em função do Reino, nada é em função de mim, logo eu não me pertenço mais. Um missionário é aquele que não se pertence.
Pertencimento
Segundo o dicionário, pertencer significa ser propriedade de algo ou alguém. A partir do momento que o ardor missionário acende dentro do meu peito, tudo o que recebo de Deus é para que eu doe ao outro. Meus dons, meus bens materiais, meus bens espirituais, meus conselhos, minha paciência, e até mesmo meus afetos não são mais propriedade minha, mas sim Dele.
Um missionário é aquele que nada retém, e não é seletivo ao ofertar sua vida. O Senhor deseja contar com você, Ele te criou e te sonhou para uma missão. Assim como Ele pergunta ao profeta Isaías, também faz essa pergunta a todos nós. Ouvi então a voz do Senhor que dizia: “Quem enviarei eu? E quem irá por nós?”. “Eis-me aqui” – disse eu –, “enviai-me.’’ (Isaías 6, 8). Isaías entrega sua vida, porque compreende o apelo do Pai pelas almas assim como Teresinha. E a partir daquele dia, também não se pertence mais.
O Senhor deseja usar-nos, o Senhor deseja enviar-nos, a todo o momento e em todos os lugares. Um cristão que não possui uma alma missionária talvez ainda não tenha tido um verdadeiro encontro com o Amor do Pai. Quando compreendemos o Amor ardente de Deus, também desejamos ser enviados para anunciá-Lo, porque esse amor transborda. Tudo que é meu passa a ser colocado a serviço do Reino, seja dentro da minha casa, do meu trabalho, da minha faculdade, escola, Igreja ou em qualquer ambiente que frequento.
Que não tenhamos medo de ser usados inteiramente e incondicionalmente pelo Senhor em favor do Reino. Que sentido teria a vida, senão este? Um missionário que não se pertence mais prova das riquezas do Rei primeiro, encontrando, então, a verdadeira alegria do Céu ainda na Terra.
Giovana Santiago
Discípula na Comunidade Católica Pantokrator