O mal do outro não legitima os meus males

Quem nunca ouviu aquela famosa expressão: “olho por olho dente por dente”? Vivendo na mentalidade do “aqui se faz, aqui se paga”, podemos muito bem querer legitimar nossa má atitude como sendo apenas uma “resposta” ao mal do outro. Se formos ver com a ótica do “mundo” – em que já não se cultiva a misericórdia e o temor de Deus –, essa atitude é tida como totalmente válida.

Se não estivermos vigilantes, com os nossos olhares fixos no que realmente é importante – o Céu -, facilmente entraremos nessa “onda” de querer fazer justiça com nossas próprias mãos, mesmo que não percebamos.  A grande maioria de nós é educada para ser forte, para ser vencedora, para ser grande! Entretanto, essas são diretrizes totalmente destoantes para aqueles que buscam seguir o “Cordeiro de Deus”, que é manso e humilde, e que nos diz para oferecermos nossa outra face quando somos atacados.

Por que ficamos frustrados quando alguém nos exige a mansidão? Por que “deixar passar” o erro do outro nos custa tanto? A explicação para essas questões (por mais difícil que seja reconhecer) é o fato de que todos nós temos a convicção íntima de que somos melhores que os outros, mais perfeitos… é aquele velho orgulho que arrastou a humanidade à revolta contra Deus.

Em muitos casos, esse senso se superioridade é verificado justamente naquelas pessoas que deveriam mostrar o contrário, isto é, as “pessoas de igreja”. Isso se dá porque, tendo um pouco mais de intimidade com o Cristo, achamos que somos melhores, mais santos que os outros, o que nos daria o “direito” de nos tornar juízes dos nossos irmãos.

Com isso, quando o outro acaba “errando” conosco, optamos por tomar dois possíveis comportamentos:

O 1º comportamento é a necessidade de ter que dar uma “lição”, para mostrar que o outro não pode agir dessa forma. Aos nossos olhos, a nossa conduta não é assim tão má, já que a “intenção era ajudar o outro a melhorar”. Olha como nos enganamos com imensa facilidade…

Um exemplo prático do que eu quero demonstrar: suponha que você está na fila de alguma loja de departamentos ou em um banco, e então, alguém entra na sua frente “furando a fila”. Muitas vezes, para “ensinar” o “furador de fila” que isso é errado, acabamos por expor publicamente a pessoa, chegando a falar alto, cutucar o indivíduo e dando altas lições de moral. Em nosso coração, podemos querer justificar tudo com o “ele mereceu” ou o “eu não estou errado”. Porém, olhe com mais calma: o que seria um ato de misericórdia nessa situação? Os erros dos outros realmente me dão poderes de juiz? Não estou dizendo que a pessoa não deva ser corrigida ou que precisamos fechar os olhos para tudo o que acontece de errado. Mas será que o outro fez de propósito? Ele não poderia ter feito por desatenção? E ainda que tenha feito por maldade, será que a minha correção não pode ser fraterna?

O 2° comportamento, que eu mencionei anteriormente, é a tendência que muitos têm de guardar no interior do coração a amargura do mal feito pelo outro. Não é raro que essa lembrança se transforme em mágoa e que essa mágoa destrua com o tempo um relacionamento que poderia ser puro. Temos a tentação de pensar: “Mas eu não falei nada…”. Porém, o julgamento foi realizado dentro de nós e constantemente decretamos a pena perpétua de que o outro é culpado pelo erro e terá que pagar para sempre.

Infelizmente, nos esquecemos de que o nosso Mestre, ao nos ensinar a rezar, nos ensina a pedir perdão pelos nossos pecados “(…) assim como nos comprometemos perdoar aqueles que tenham nos ofendidos” (Mt 6,12)

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“O perdão vai além da justiça humana; é perdoar aquelas coisas que absolutamente não podem ser perdoadas” (C.S.Lewis).

Em um mundo onde se prega o #cancelamento dos outros, dar o perdão a um ofensor é sinônimo de fraqueza na visão fria e calculista da cultura moderna. Mas, pelo contrário, conceder o perdão ao outro é ganhar de presente a paz interior e dar mais uma chance ao outro. É exercitar a esperança de que o outro pode aprender com seus próprios erros.

Imagine se o Cristo nos julgasse da mesma forma como o fazemos. Precisamos nos lembrar de que o Nosso Senhor seria o único que poderia julgar e dar as penas justas, pois Ele é perfeito! Entretanto, mesmo sendo Todo-Poderoso, Ele optou pela misericórdia e compaixão para conosco. Se nosso Criador e Senhor tem paciência com tão graves pecados, por que nós – que somos tão limitados – não deveremos agir com paciência perante o nosso próximo?

Saiamos dos nossos julgamentos, desçamos dos postos de juízes e assumamos que, assim como nós, o outro também é humano e, assim, passível de erro.

O errado é errado, mesmo que todos estejam fazendo

Para um cristão, ser um autêntico discípulo do Mestre significa seguir seus ensinamentos, ser testemunha do amor redentor do Cristo e deixar o coração ser dilatado constantemente. Assim sendo, não podemos pagar na mesma moeda quando somos ultrajados – ainda que tenhamos “toda razão” de estar bravos, zangados, decepcionados…

Não compete a nós querer se vingar, fazer a pessoa pagar pelo erro. Deus se encarregará de ensinar a todos. Ele se encarregará também de fazer, no tempo certo, a devida correção (e, se necessário, as devidas punições). A nós, cabe apenas conceder o perdão e aquietar o nosso coração, pois nosso Senhor tudo sabe.

E que tenhamos sempre em mente o ensinamento do divino Redentor, narrado no capítulo 7 do Evangelho de São Mateus: “Não julguem, para que vocês não sejam julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e à medida que usarem, também será usada para medir vocês” (versículos 1 e 2).

Que Deus nos conceda a graça de sermos mansos e humildes de coração.

Deus nos abençoe!

Angélica Baruchi Libório
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator 

 

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