“Se tiverdes fé, como um grão de mostarda, direis a esta montanha: transporta-te daqui para lá, e ela irá; e nada vos será impossível.” (Mt 17,20b)
Imagine a seguinte situação: você recebeu seu salário, como todo mês. Nesse salário está a sua subsistência para o seu mês. Até aí, tudo bem. Nesse mês você ficou doente, dois dias a menos de trabalho e 300 reais de remédio.
No mês seguinte, novamente você recebe o seu salário, mas com desconto de dois dias no Vale Alimentação. Como em família tudo se divide, seus filhos e esposa também ficaram doentes, demandando mais remédios e mais atenção. Com esses gastos, somam-se o aumento dos alimentos, o gasto com locomoção, com comida fora, etc. Em meio a tudo isso, as suas finanças ficam descontroladas, sendo em um período que não terá reposição. Qual a sua reação interna?
Nesses momentos, mais que em outros, buscamos ardentemente Deus, rezamos e pedimos ajuda, intercessão, etc. Mas e se, mesmo rezando, você perceber que a situação não melhora, pelo contrário piora? Qual o movimento interior?
Jó recebeu pacientemente (não passivamente) cada situação adversa em sua vida. A cada “paulada” que a vida lhe dava, mais sua confiança em Deus aumentava. Mesmo abandonado por todos (e, pelas aparências, por que não achar que Deus lhe havia abandonado?) sua fé em Deus se mantinha.
Nós somos chamados a abraçar a fé. Na verdade, a ter a Fé como sustentáculo de nossas vidas. Tudo o que acontece ou deixa de acontecer em nossas vidas deve passar pela visão de fé.
E como anda nossa fé?
A fé nos faz olhar para Deus em qualquer circunstância. Fomos muitas vezes educados a achar que a fé é algo dos mosteiros, clausuras e não de pessoas do dia a dia, da contabilidade, da informática, da construção civil etc. Porém, a fé nos dá a força de viver a vida de Deus aqui na terra. Ela nos dá a certeza de que o céu começa aqui, sendo assim, nossas ações e trabalho são para o próprio Deus. A fé nos traz a segurança de que em meio ao mar revoltoso do dia, há um Porto Seguro: Deus! A fé nos traz a paz em meio ao Vale de Lágrimas de nossas vidas.
Deus por vezes se disfarça de nosso filho para nos dar a força de enfrentar um ambiente de trabalho penoso, Ele se disfarça de nosso cônjuge para nos fazer amar mais e mais. Disfarça-se de uma conta bancária negativa para acreditar que Ele é nosso refúgio e esperança. E em meio a tudo isso, somos questionados por pessoas ao redor, familiares, nós mesmos ou por Satanás: “Esse é seu Deus?”; “Esse é o Todo-Poderoso, que te deixa passando por tudo isso?”
A fé se torna um escândalo diante dessas situações. Continuar a crer e confiar em Deus é um escândalo! Temos, de certa forma, as condições de desistência, mas abraçamos o sobrenatural no natural de nossas vidas. Contas passam, empregos passam, doenças passam, o que não passa é o Amor de Deus e a salvação de nossas almas!
O Pai, em Sua infinita bondade permite situações adversas, contrárias, até mesmo absurdas, para que nossa fé seja aumentada e, assim, também seja aumentada nossa capacidade de amar. Incoerente é uma atitude de fé sem a manifestação do amor. Por isso, crer e se manter firme e sereno nas adversidades, mais que um gesto de fé, é um escândalo.
Por isso, pessoas como Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce dos Pobres e São José – pai adotivo de Jesus – são gritos de Deus a nós. A fé escandalosa desses santos em Deus mostra a nós, na loucura de nosso tempo e nas adversidades cotidianas, que há um Bondoso Pai que nos ama e cuida de nós.
Esses “gritos” de fé nos fazem olhar mais longe, muito além do que podemos imaginar. A fé sustenta a caridade, sustenta o amor e a capacidade de doação. Fé não é sentimento, um “gostosinho” no coração, um calor no peito. Fé é uma firme decisão de ser de Deus e d’Ele somente. A fé é o sustentáculo de nossas ações e aqueles que se mantiverem firmes nela experimentarão a Glória de Deus.
“Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (I Cor 2,9)
Leonardo Araujo Pataro
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator