“Deus disse: ‘Façamos o ser humano à nossa imagem e segundo nossa semelhança.’ Homem e mulher ele os criou”. (Gen 1, 26-27)
Através da Sã Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, sabemos que Deus é sumo Bem e, por isso, criou tudo o que existe. Criou-nos homem e mulher, como lemos no relato da criação no livro de Gênesis, para nos derramar Suas riquezas e fazer-nos participantes de Sua glória. Podemos dizer que Deus é sumamente difusivo de Si, ou seja, Ele é Amor e Seu único movimento é o de dar-Se continuamente e constantemente. Na criação, não apenas nos criou, mas deu-nos participar da Sua vida.
“Deus adquiriu para si um povo para o louvor da sua glória”. (Efe 1, 14)
Deus não precisa de nós, pois é absoluto, livre de dependências ou condicionamentos. Podemos afirmar, portanto, que a criação da vida humana é graça total da parte de Deus, que nos quis e nos quer para Si e não temos mérito algum nisso.
Deus fez do nada as criaturas, não para aumentar ou adquirir a própria felicidade, mas para manifestar Sua perfeição pelos bens que lhe conferem”. (Gaudium et Spes)
Mesmo diante de tão grande amor e misericórdia, o homem desobedeceu a Deus e seguiu pela sombra do pecado. Conforme o povo mergulhava na opressão, Deus foi Se revelando e também dando ao conhecimento do povo as promessas de intervenção.
Através da boca dos profetas, Ele mostrou o Seu amor por nós, não somente por profecias como por inúmeros feitos. Ele abriu o Mar Vermelho, fez Davi vencer Golias, salvou os três jovens na fornalha, entre tantos outros acontecimentos que são verdadeiras provas de amor. Seu povo sucumbia ao mal e o Pai não deixou (com) que essa situação permanecesse assim, pois dessa forma nos teria perdido para sempre.
Ele prometeu e cumpriu cada uma das promessas feitas e a maior de todas é o Messias, Seu Filho, que enviou a este mundo para libertar Seu povo para sempre e restabelecer a amizade que havia sido rompida (Cf. Jo 3, 17).
E, assim, Cristo Se encarnou no seio da Virgem Maria e Se tornou homem como nós a fim de que, por Sua Paixão, Morte e Ressurreição, pudéssemos ser libertos para sempre. Somente Jesus, com a dignidade devida, poderia pagar essa culpa em nosso lugar.
Ele cancelou a culpa de Adão e devolveu a toda a humanidade as graças e bênçãos que havia perdido. Estabeleceu com Seu povo a Nova e Eterna Aliança, selada com Seu próprio Sangue, redimindo o mundo do pecado e da morte. A desobediência do pecado do homem foi recapitulada pela obediência do Cordeiro de Deus.
Entretanto, como qualquer aliança, contrato ou pacto, há um comprometimento entre os lados. Cristo já realizou a Sua parte nesta Aliança e, portanto, nós precisamos fazer também a nossa parte, para que ela seja plena de fato.
O que isso significa?
Cristo nos salvou de uma vez por todas e isso é fato imutável e suficiente. Entretanto, a atualização deste grande mistério em nossas vidas depende de nossa adesão, da nossa fé. É este o significado da frase de Santo Agostinho: somente pela fé tomaremos posse da salvação de Cristo. É preciso assumir na vida a Redenção com um constante ato de própria vontade.
Ora, se Jesus morreu para nos libertar do pecado, como é possível continuar a viver no pecado? Seria incoerente, insensato, além de um grande insulto às dores e aflições que Ele passou por nós. Quem escolheria a morte quando se pode escolher a vida? Não faz sentido.
Apenas um Deus muito apaixonado poderia fazer tais coisas por Seus filhos. O que mais poderia Ele ter feito ou fazer para nos convencer deste grande amor? E diante deste grande amor, ficaremos inertes e passivos? Viveremos como se o que Cristo fez fosse uma coisa qualquer? Como se Ele fosse uma grande figura histórica que nada tem a ver conosco?
A nós, resta-nos amá-lo de volta! Resta-nos o comprometimento com uma vida de estreita intimidade e união com o Senhor, fazendo-nos Seu amigo e seguidor. Fazendo jus ao Seu sofrimento, valorizá-lo com a própria vida, correspondendo ao Seu amor e dando tudo o que temos em oferta de amor, pois se não fossem Seus méritos, jamais teríamos a chance de um dia estar com Ele no Céu. Ele nos devolveu a chance da eternidade, pois o salário do pecado é morte! (Cf. Rom 6, 23)
Por isso, concluímos que se o Pai nos deu a graça da vida por Sua santa vontade, a Redenção só acontecerá em nós de fato através da nossa própria vontade. Ele nunca toca em nossa liberdade de escolha, portanto, a adesão é algo individual e intransferível.
Por outro lado…
O inimigo de Deus deseja que percamos esse grande bem e deixemos “descer pelo ralo” toda a graça da salvação de Cristo. Mesmo sendo um derrotado, o diabo não mede esforços para impedir que usufruamos dessa grande graça que é a Redenção de Cristo. Quer que vivamos como desgraçados, ou seja, como quem não possui a graça sendo que já a temos.
Como ele não tem mais o poder sobre nós, pois fomos comprados pelo Sangue de Jesus (cf. I Cor 6, 20), usa a estratégia de nos induzir à escolha do pecado, exaltando as aparentes facilidades da vida sem Deus.
Se não estivermos ancorados na fé em Cristo e se não cultivarmos uma vida de oração que nos sustente, facilmente cederemos. A vida do cristão é um verdadeiro combate, porque interiormente o pecado nos deixou frouxos e somente a graça pode nos ajudar a vencer as tentações.
A fé é essa adesão, essa decisão, é a posse antecipada das graças prometidas no Céu já nesta terra. Aquele que se decide em viver esse combate nesta terra em detrimento do Céu, deixou-se ser remido pelo sangue do Cordeiro. A fé é o veículo em que Cristo salva-nos juntamente com a nossa permissão.
Uma pessoa que vive em situação de pecado grave como um ladrão, por exemplo, já foi salvo por Jesus, porém, o efeito da salvação na vida desta pessoa é bloqueado por ela mesma, porque mantém uma vida contrária a Deus. Um coração que assume verdadeiramente a Redenção de Cristo lutará até o sangue para viver a coerência com a Palavra.
“Ora, na guerra contra o pecado ainda não tendes resistido até o extremo de derramar o próprio sangue”. (Heb 12, 4)
Aquele que escolhe viver a vida da Redenção e assume a salvação de Cristo está sujeito às ciladas do demônio, mas a graça de Deus o protege e o guarda. Precisamos tomar posse desta verdade, temos mais do que o necessário para resistir e vencer! A fé nos coloca neste movimento constante de luta e confiança em Deus, porque mesmo se cairmos a Sua misericórdia nos levantará para que possamos prosseguir.
Este é o caminho a que somos chamados a percorrer para gozarmos todos os bens reservados àqueles que amam a Deus, aos que assumem em sua vida Cristo como seu Senhor e Salvador e estão dispostos a serem transformados por Ele. Assim foi a vida dos santos, que venceram suas próprias más inclinações através da força redentora de Jesus.
Ele nos prometeu um banquete de ricas iguarias, pratos deliciosos e regado a finos vinhos (Cf. Mt 22, 1-14). Todos nós somos convidados a participar desse banquete eterno, de maneira imperfeita já aqui nesta terra e depois na eternidade, mas temos que nos vestir com os trajes adequados.
“Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro”. (Apo 7, 14)
Esta Palavra nos mostra que apenas os que se deixaram ser lavados pelo Sangue de Cristo derramado na Cruz, os que se deixaram ser alcançados pela Redenção de Jesus é que terão os trajes adequados para o grande banquete. Não podemos ficar de fora desta graça, desta promessa. Precisamos atender a este convite de Deus desde já e viver nesta terra, mesmo que às apalpadelas, aquilo que será este grande momento na eternidade.
Esta reflexão, meu (minha) querido (a) irmão (ã) é para te encorajar a buscar essa graça para a sua vida. Muitas graças não chegam a nós por nossa própria culpa, porque não as buscamos, porque não lutamos por elas. Essas graças nos vêm pelos méritos da Aliança de Jesus, portanto, a chave para alcançá-las é viver como quem foi salvo e que busca as coisas do céu e não como aquele que vive conforme as coisas do mundo (Cf. Col 3,1).
É preciso nos esforçar para buscar as coisas do alto, lutar até o sangue contra o pecado e aderir a esta Redenção com um coração cheio de fé e humildade, que se reconhece pecador e que precisa de ajuda no caminho rumo ao céu.
Nesse processo, seremos transformados por Jesus para que aos poucos nos tornemos mais parecidos com Ele. Quando encarnamos a Redenção de Cristo, aproximamo-nos da santidade.
Que possamos todos chegar assim, puros e santos, no banquete eterno!
Luciana Santos Ronqui
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator