Natal
O fim do ano se aproxima… Quanta coisa para fazer e no que pensar!!! Tempo de finalizar as coisas do cotidiano que parecem intermináveis, concluir as pendências no trabalho, matricular os filhos na escola, participar das confraternizações com os amigos e colegas de trabalho, planejar os “amigos-secretos”, comprar presentes, combinar os encontros em família, planejar e preparar a ceia, pensar na viagem de férias… Diante dessa correria frenética característica dos nossos tempos, até mesmo nós, cristãos, se não pararmos para refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal, correremos o risco de ele se tornar apenas “mais um natal” e a graça desse momento nos passará despercebida.
O Natal de Jesus Cristo
Na plenitude dos tempos… “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade”. (1) É o que nos narra a passagem do Evangelho de João anunciada na Solenidade do Natal do Senhor, celebrada no dia 25/12. Para alguns, esse trecho do Evangelho pode soar um tanto abstrato e até “poético”. Leiamos, agora, com atenção, os parágrafos a seguir retirados do livro “A infância de Jesus”, de autoria de Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI:
“Jesus nasceu num período que se pode determinar com precisão. No início da atividade pública de Jesus, Lucas oferece mais uma vez uma datação detalhada e cuidadosa daquele momento histórico: é o décimo quinto ano do governo de Tibério César; além disso, são mencionados o governador romano daquele ano e os tetrarcas da Galileia, da Itureia e da Traconítide, bem como de Abilene, e depois os sumos sacerdotes (cf. Lc 3,1-2)”. (2)
“Jesus não nasceu nem apareceu em público naquele indefinido “uma vez”, típico do mito; mas pertence a um tempo, que se pode datar com precisão, e a um ambiente geográfico exatamente definido: o universal e o concreto tocam-se mutuamente. N’Ele, o Logos, a Razão criadora de todas as coisas entrou no mundo. O Logos eterno fez-se homem, disso faz parte o contexto de lugar e tempo. A essa realidade concreta está ligada a fé, ainda que depois, em virtude da ressurreição, o espaço temporal e geográfico fique superado, e aquele “vos procede na Galileia” (Mt 28,7) por parte do Senhor lance na vastidão aberta da humanidade inteira (cf. Mt 28,16ss). (3)
O Verbo Encarnado
O Verbo Eterno, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnou-Se. Assim como nós, Jesus Cristo nasceu em uma região específica e em um tempo determinado da história da humanidade. Sendo inteiramente homem e inteiramente Deus, Cristo adentrou a realidade humana em sua plenitude e vivenciou todas as dimensões da vida de um homem, com exceção do pecado. Desta forma, Cristo eleva e recapitula a humanidade, revela-nos o Pai e o Seu sonho para nós. Cristo ensina-nos a sermos homens e mulheres de forma plena e genuína.
A cada Natal, em mistério, o Menino Deus renasce no meio de nós e dentro de nós, trazendo uma nova esperança, uma nova alegria, um novo vigor, um novo sopro de vida… Ele que é a verdadeira vida! (4) Que, ao fazer memória do Natal, bebamos da graça desse tempo litúrgico e tenhamos um real encontro com o Menino Jesus!
O mistério da manjedoura
Durante o Tempo do Advento, é comum vermos nas igrejas, presépios com as manjedouras vazias à espera do Menino Deus. Apresentemos também nossas manjedouras vazias, nossos corações sedentos, nossos vazios existenciais, necessidades e carências, medos e aflições à espera do Menino Jesus para que Seu nascimento no Natal nos preencha com Sua presença e Sua graça.
“A manjedoura é o lugar onde os animais encontram o seu alimento. Agora, porém, jaz na manjedoura Aquele que havia de apresentar-Se a Si mesmo como o verdadeiro pão descido do céu, como o verdadeiro alimento de que o homem necessita para ser pessoa humana. É o alimento que dá ao homem a vida verdadeira: a vida eterna. Dessa forma, a manjedoura torna-se uma alusão à mesa de Deus, para a qual é convidado o homem a fim de receber o pão de Deus. Na pobreza do nascimento de Jesus, delineia-se a grande realidade, em que misteriosamente se realiza a redenção dos homens”. (5)
Verdadeiro Alimento
Cristo se dá a nós como verdadeiro alimento. Ele é a Palavra em Si mesmo, o Verbo Eterno encarnado, o conhecimento de Deus de Si mesmo. Ele traz sentido a tudo e sacia a nossa sede do transcendente, da eternidade, da vida eterna. “A pessoa humana tem uma necessidade que é ainda mais profunda, uma fome que é maior que aquela que o pão pode saciar – é a fome que possui o coração humano da imensidade de Deus”. (6)
Às vésperas de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, ceando com os apóstolos, Jesus Se fez alimento novamente. E continua Se dando como alimento a nós em cada Sacramento da Comunhão até o fim dos tempos.
Que no próximo Natal, em meio a tantos encontros, presentes e comidas gostosas, permaneçamos atentos para nos saciarmos do verdadeiro alimento que é Jesus Cristo e que vem ao encontro da humanidade!
Feliz e abençoado Natal!
Adriane Megale Luz
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
- Jo 1,14
- “A infância de Jesus”, Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI
- “A infância de Jesus”, Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI