É inevitável nos aproximarmos dos últimos dias do ano e não sermos lançados em uma atmosfera totalmente diferente. Sim, estes são dias “mágicos”! Dezembro sempre traz consigo uma trilha sonora própria, repleta de acordes, por vezes nostálgicos.
Somos todos levados, quase que automaticamente, a fazer uma reflexão de como passamos mais um ano. Mesmo sem perceber, somos chamados a uma reconciliação das metas traçadas, dos caminhos tomados, das promessas não cumpridas e dos feitos conquistados. O nosso próprio cérebro tende a produzir nossa própria “retrospectiva” das alegrias e tristezas, evidenciando como havíamos “prometido” viver e como verdadeiramente vivemos.
“Então é natal, o que você fez? O ano termina…”
E não é que 2020 está chegando ao fim? Um dos anos mais atípicos da história (talvez o mais louco de nossas vidas!); ano regado de medos, inseguranças e despedidas. Ah, quantas despedidas… Este foi o ano que marcou muitas vidas, um ano de reflexão. Quem poderia dizer que, ao deixar 2019, muitos dos que estavam à nossa volta, sorrindo, cantando e fazendo tantos planos, estariam adentrando o último ano de suas vidas?
E, no entanto, este longo e difícil ano de 2020 vai se apagando aos poucos. Daqui a pouco será passado. Diante disso, é válido deixar a pergunta: o que aprendemos com ele? O que este ano pode nos ensinar? Por mais difícil e “estranho” que tenha sido, este ano nos deixa uma infinidade de aprendizados. Vamos tentar enumerar alguns:
- Como somos frágeis e vulneráveis!
Quantas pessoas, repletas de bens e com recursos ilimitados, tiveram suas vidas interrompidas inesperadamente? Quantos empregos dos sonhos (às vezes frutos de uma vida inteira) foram deixados para trás, assim como bens caríssimos (tantas vezes adquiridos às custas do tempo retirado da família)… Quantos são aqueles que optaram por fazer dinheiro, ao invés de fazer memórias… No fim, ao trilharmos o caminho do sofrimento, do medo e da angústia, a nossa ficha finalmente cai e temos a possibilidade de perceber que somos apenas criaturas; que não temos controle de nada; que somos totalmente dependentes do nosso Criador. E que grande paz nos é dada, ao sabermos que, em meio ao caos que nos é apresentado, temos um Deus que zela por nós; que, mesmo trilhando um caminho repleto de sofrimentos, não passamos por ele sozinhos.
- Nossa vida é um breve minuto.
Quantos são aqueles que deixaram para trás a falta de um pedido de desculpas, de um agradecimento, de um abraço ou de uma palavra de carinho? Só Deus sabe quantas reconciliações foram adiadas (às vezes por motivos tão pequenos) e o tempo se esgotou… Temos um péssimo hábito de passar pela vida como se tivéssemos todo o tempo do mundo: tempo para nos converter, para dizer um “eu te amo”, ou para pedir desculpas. Tempo para ficar com nossos entes queridos, para termos filhos, ou para visitar bons amigos. Vivemos como se nós fôssemos os autores da vida; como se nós soubéssemos exatamente o dia e a hora em que iremos dizer adeus. O próprio Deus – o Autor da vida – também anseia por um tempo conosco. Este mesmo Deus que ignoramos com tanta facilidade, por acharmos que teremos tempo suficiente no futuro.
- Família? Não. Apenas um grupo de pessoas vivendo debaixo de um mesmo teto.
Este ano meio que “obrigou” pais, filhos e irmãos a conviverem por maior tempo em um mesmo ambiente. Quantas famílias já não se reconheciam mais? Não são raros os pais que se viram desconhecidos aos olhos dos próprios filhos. Como chegamos a isso? Como ficamos mais “íntimos” de pessoas virtuais do que de nossas próprias famílias? Presenciamos o triste espetáculo de famílias totalmente destruídas, justamente por não reconhecerem o real significado de família. Vivemos um contexto de mundo em que é tão grande a superficialidade, que não nos demos conta de que muitos dos nossos lares foram “infectados” pela indiferença. Felizes são as famílias que ainda não substituíram seus próprios entes pelas redes sociais… Sim, porque muitos de nós fomos sendo escravizados por meio dos “eletrônicos”, a ponto de considerarmos mais importante uma “selfie” ou um “storie” do que um almoço entre irmãos.
“… e começa outra vez!”
É uma prática muito comum, nas grandes empresas, a realização de “balanços” e auditorias ocasionalmente. Sim, depois de vários meses de um ritmo frenético, entre compras e vendas, admissões e demissões, é preciso que os administradores parem por alguns momentos, avaliem todos os dados e respondam a perguntas importantíssimas: “Onde nós erramos? O que precisamos mudar? Por que estamos tendo tal prejuízo?”. Muito frequentemente, estes “balanços” empresariais são realizados no final do ano, a fim de que já se inicie o próximo ano com mudanças significativas – visando sempre o crescimento da empresa.
Também com a nossa vida pessoal, deveríamos fazer uma espécie de “balanço” de final de ano. Talvez a expressão “exame de consciência” seja mais adequada. A exemplo das grandes empresas, que possamos aproveitar este restante do ano, que traz consigo uma atmosfera tão propícia, para refletirmos seriamente sobre pontos imprescindíveis: como estamos vivendo? Como queremos viver? O quão longe estive do Senhor durante este ano? Quantas pessoas esperam o meu pedido de perdão? O quanto podemos ser melhores?
Ao terminar finalmente este ano, quando dermos as boas-vindas ao esperado “ano-novo”, que possamos deixar nossos corações renascerem junto com o menino Deus – Ele que nos traz a alegria de celebrar a vida, e a esperança de que teremos uma vida mais santa e mais voltada às necessárias reconciliações.
Um santo término de 2020 e um início de 2021 abençoado!
Angélica Baruchi Libório
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator