Hoje me dedico a escrever para aqueles que ficaram, os que nunca tiveram grandes revoltas e que não têm grades histórias de conversões, apenas servem a Deus desde muito cedo. São aqueles que apagam as luzes da igreja, estão à frente de alguns cuidados com a casa do Senhor, mas se encontram cansados; que já catequisaram muitos, mas, ao procurar algum fruto, muitas vezes se perguntam se o trabalho feito foi realmente bom. Sei que esse sentimento te incomoda, pois, como dizer que, mesmo servindo ao Pai, não nos sentimos filhos?
Para isso, tomo como base a passagem bíblica do filho pródigo; mas não vamos olhar para o filho mais novo que abandona tudo como quase sempre fazemos; vamos olhar para o filho que fica, o mais velho. Em Lucas 15, 28-32, vemos o filho mais velho chegar de um dia de trabalho no campo e se deparar com a festa dada pela volta do mais novo; leiamos novamente: “Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele. Ele, então, respondeu ao pai: ‘Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos. E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!’. Explicou-lhe o pai: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado’ ”. Tatas vezes buscamos consolações humanas em Deus, confortos na alma, resoluções para problemas, e, não encontrando, cobramos de Deus essas pequenas glórias, até porque o servimos há tanto tempo sem ferir nenhuma regra. A questão é: em que ponto nos esquecemos de que somos filhos que servem e não somente servos?
“Mas seu pai saiu e insistiu com ele” (Lc 15, 28).
Estamos na casa do Pai mas não compartilhamos da Sua herança, não desfrutamos de Seus banquetes, não nos deliciamos com a intimidade de um pai com seu filho; e nos esquecemos de que mais do que trabalhar para a obra de Deus é viver as obras de Deus; e não podemos culpá-lo por isso pois Ele sempre esteve lá para nós, mas e nós? Estamos realmente com Ele ou deixamos nosso coração escapar pelas brechas? Depois de tantos anos de caminhada, precisamos reconhecer que não sabemos nada sobre Deus, e que, sendo filhos podemos pedir para que Ele Se revele a nós como um Pai, que nunca nos abandona.
Se realmente entendêssemos nossa filiação divina, não precisaríamos de consolos humanos, novilhos gordos ou prosperidade porque em tudo veríamos a providência. Alegrai-vos, irmãos, pois o Senhor é por nós e nos amou tanto que nunca permitiu que fôssemos muito longe do Seu Olhar ciumento, sempre nos aninhou embaixo de Suas Asas. Ele É, e somente Ele nos basta, servi-l’O é motivo de grande alegria, pois estamos dando passos em direção ao céu, à Sua Sagrada Face. Tenhamos a certeza em nossos corações de que tudo valerá a pena e, enquanto esperamos a verdadeira glória, sejamos livres para também desfrutar da beleza que é viver dentro da casa do Pai e podermos ser chamados filhos de Deus.
Juntos até o céu!
Tayná Barbosa
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator