Matrimônio, sinal da vida trinitária

Matrimônio

A família é o núcleo de toda a sociedade: é o ambiente onde as pessoas são geradas, educadas e preparadas para todos os tipos de desafios. E a base da família é, tradicionalmente, o matrimônio, isto é, a união entre um homem e uma mulher que resolvem deixar seus antigos núcleos familiares para construir uma vida una – um só caminho, uma só direção, uma só carne.

É interessante perceber o quanto Deus parece gostar do matrimônio. Basta olhar para a Bíblia: ela começa com um matrimônio (Adão e Eva, conforme o livro de Gênesis) e termina com um (a união entre Cristo e Sua Igreja, conforme o livro de Apocalipse). Aliás, o primeiro milagre público de Jesus se deu, justamente, em uma festa de casamento (cf. Jo 2).

O matrimônio, de fato, possui significados e simbologias riquíssimos, sendo apreciado de maneira muito especial na Igreja. Não é à toa que Nosso Senhor o alçou à categoria de sacramento!

Todo mundo sabe que o Pai amou tanto o mundo que resolveu entregar Seu Filho Único para nos salvar (cf. Jo 3,16). O que poucos param para pensar, contudo, é que Jesus poderia ter vindo de outros modos. Poderia ter chegado “pronto”, aos 30 anos, descendo de uma nuvem. Ou, talvez, poderia ter surgido com uma lava de vulcão. Nossa imaginação fértil criaria mil outras possibilidades.

Mas não. Deus quis ser gestado na barriga de uma mamãe (e não foi qualquer mamãe…). Deus Se fez pequeno e frágil, precisou ser alimentado e coberto no frio. E o mais interessante: o Todo-Poderoso fez questão de ser acolhido e abrigado em um lar humano. O homem Jesus (que não deixou de ser Deus) foi educado pela Virgem Santíssima e pelo Glorioso São José, unidos por Deus em matrimônio santo e puro.

Mas, afinal, o que o matrimônio tem de tão especial, para ter encantado o coração de Deus? Mais ainda: o que o matrimônio pode nos ensinar sobre o coração de Deus? Se quisermos entender estes mistérios, não deveremos enxergar o casamento com o olhar do homem pós-moderno.

O MATRIMÔNIO CORROMPIDO DO MUNDO ATUAL

Sim, hoje o casamento não tem nada de muito especial, justamente porque foi esvaziado do seu sentido. Trata-se, atualmente, de um contrato civil entre duas pessoas – e que poderá ser dissolvido a qualquer momento. Aliás, para tornar menos dramáticas as separações, costuma-se combinar os famosos casamentos “com separação de bens”.

Em muitos “casórios” atuais, o critério de permanência é bem simples (para não dizer simplista): “Eu estou contente?” Se sim, pode continuar um pouco mais. Se não, parte-se para outra tentativa, com alguém que tenha algo a mais para oferecer.

Quanto aos filhos, geralmente são evitados a qualquer custo. Muitas mulheres justificam não querer atrapalhar o “crescimento profissional”. Muitos homens tremem de medo ao pensar em possível “pensão alimentícia”. Muitos casais, enfim, não querem se arriscar a perder os projetos pessoais, viagens ou as preciosas noites de sono.

É compreensível que muitos não queiram pensar em casamento, afinal poucos sabem do que realmente se trata. É possível encontrar notícias na internet (cada vez mais recorrentes) de pessoas “se casando” com objetos, animais ou grupos de pessoas.

Mas não se engane, o matrimônio continua sendo uma das coisas mais belas do mundo. Certo dia, alguém chegou em Jesus e argumentou que o divórcio já havia sido autorizado antigamente. O Cristo, com toda a Sua autoridade e inteligência divina, respondeu: “Mas no início, não era assim” (Mt 19,8).

O MATRIMÔNIO NO PROJETO DE DEUS

Quando Jesus Se refere ao “início”, Ele certamente está Se referindo ao projeto do Pai. Nos planos de Deus (e antes da infestação do pecado), toda a criação era boa. É neste contexto que o matrimônio deve ser encontrado e analisado.

Veja que coisa esplendorosa: um homem e uma mulher que decidem se unir em uma aliança de amor. Este laço é tão forte, mas tão forte, que de certo modo eles deixam de ser duas pessoas: para o mundo, agora se trata de uma única carne! As diferenças entre eles não se tornam um problema, mas uma complementariedade.

Nesta união, a palavra-chave é “doação”. Diferentemente do que ocorre no mundo pós-pecado (onde se busca a satisfação própria), no matrimônio verdadeiro o grande objetivo do homem é defender e exaltar sua mulher, ainda que precise derramar seu sangue para isso. Já a mulher, aceita se submeter às escolhas do marido, porque sabe que ele não é egoísta.

Nesta relação de constante doação, o amor cresce, bem como a cumplicidade. E aqui acontece o ponto mais lindo de todos: o amor transborda e gera vida. Não há espaço para egoísmo entre o casal, então os filhos passarão a ser também objeto da doação dos pais. É isso o que encanta o coração de Deus!

A verdade é que o matrimônio humano é uma imagem (bastante imperfeita) da realidade sublime da Santíssima Trindade. O Pai, desde toda a eternidade, ama o Filho e Se doa inteiramente a Ele. O Filho, obediente por amor, ama e Se doa ao Pai com tudo aquilo que tem. Tal união perfeita gera alguém igualmente perfeito: o Espírito Santo.

Santo Agostinho, na sua genialidade habitual, simplifica tudo dizendo que a Santíssima Trindade é o encontro entre o Amante (Pai), o Amado (Filho) e o Amor (Espírito Santo). De fato, assim como o marido e a mulher são duas pessoas e, ao mesmo tempo, “uma só carne”, de maneira semelhante o Pai, o Filho e o Espírito são três Pessoas Divinas que não Se confundem, mas que não deixam de ser um único Deus.

Toda essa reflexão é de uma riqueza espiritual enorme. Se compreendermos isso, poderemos chegar à conclusão inevitável de que nós também somos frutos do amor transbordante da Santíssima Trindade. E mais: que esse amor não pode ficar parado em mim, deve se tornar doação aos outros. Amor e doação são sinônimos no dicionário divino.

Então que nós possamos voltar a ensinar ao mundo o valor originário do matrimônio e o seu significado transcendente. Que a Virgem Santíssima nos abençoe sempre!

Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator

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