Imaginemos esta cena: Maria Santíssima assistindo seu Filho tão amado morrendo de maneira torturante na cruz, sem poder fazer nada para impedir.
Olhando de fora, só vemos dor, e uma dor dilacerante, e acabamos por fixar somente essa imagem externa da cruz, relacionando cruz com sofrimento terrível. Porém, se nos aproximarmos de Nossa Senhora e segurarmos sua mão, se olharmos para quem seus olhos contemplam, se nos permitirmos adentrar naqueles corações inflamados de amor, poderemos ter outra percepção.
“Junto à cruz de Jesus, estava em pé sua mãe…” conf Jo 19,25
Peço licença de partilhar uma experiência particular que me ajudou a entender um pouco mais da cruz. Em minhas orações dizia que a única coisa que não queria imitar de Nossa Senhora era a dor de viver a morte de um filho, porém o “seja feita a Vossa vontade” do Pai Nosso era um desejo mais profundo e constante. Este foi ouvido. Minha última gravidez foi a prova disso. Quando soube do letal problema genético de minha filha Celina, Deus logo se adiantou em me dizer “Creia no meu amor”. Foi um período de muita súplica e louvor pela vida dela, até que com 34 semanas de gestação, durante o exame, o médico disse em termos técnicos: “derrame pleural bilateral” e nesta hora eu soube que Celina estava nos braços de Jesus. A paz que me veio no coração não consigo descrever, depois de tanta luta, de tanto amor, de tantas orações, a notícia da morte de minha pequena não me causou o mínimo sentimento de revolta. O que me consolou admiravelmente naquela hora de cruz (,) foi exatamente o pensamento de que “eu havia feito tudo o que podia por ela, com todo o meu amor eu a tinha amado”. A dor era real, porém o consolo também! A troca que fizemos ali foi de intenso amor e gratidão, uma a outra e a Deus! Dias depois, recebi com alegria a bênção de saber que eu havia sim imitado Nossa Senhora naquela situação, por graça Divina tinha ficado em pé diante da cruz!
Contei esse breve testemunho para dizer que para entendermos a cruz, não basta olharmos por fora, pois se agirmos assim nós a rejeitaremos e faremos como tantos que viravam o rosto ao ver Jesus dilacerado, vertendo sangue, pregado nela daquela maneira! Aproximemo-nos, entremos na troca amorosa que havia ali e saberemos que a dor por amor não tira a paz, consola a alma. O fardo fica leve e o jugo suave, como Jesus mesmo nos diz em Mt 11,30. O amor alivia a pena e consola as dores.
Acreditar
Na ótica do amor, há trocas que somente se fazem na cruz, pois ela é oportunidade ímpar de o provarmos! Tanto para quem ama quanto para quem é amado.
O sofrimento insuportável e desesperador é a dor sem sentido, a dor pela dor. O sofrimento salvífico e paciente é aquele que tem como essência o amor, este último constrói, une, consola, fortalece, fecunda e frutifica.
“De tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” Jo 3,16
A dor de Nossa Senhora aos pés da cruz de seu Filho foi sem dúvida muito maior do que podemos imaginar, porém, o amor que a sustentou “em pé” superou e muito aquele sofrimento! Acredito que aquela troca de amor foi tão enorme e intensa que se fosse materializada incendiaria o mundo todo! Não falo somente dessa troca entre Jesus e Sua mãe, mas do Seu desejo de trocar amor conosco!
Expresso, por fim, meus desejos de que as cruzes da nossa vida sejam oportunidades para experimentarmos essas amorosas trocas, pois só o amor nos santifica, e que no silêncio de cada lágrima possamos regá-lo, entoando uma melodia de louvor Àquele que nos “amou primeiro”!
Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator