Quando lemos, no primeiro Livro das Crônicas, o relato dos instantes que precederam a morte do rei Davi (1Cr 29,1-14), percebemos, de forma muito clara, a imensa generosidade que havia em seu coração.
Davi havia prometido a Deus que construiria uma casa para Ele, um Templo. Contudo, a vontade de Deus era que Salomão, filho do rei Davi, fosse responsável por essa obra.
Mesmo sabendo que a missão de edificar o Templo era de seu filho, Davi manifestou sua generosidade a Deus, doando toneladas de ouro, prata, bronze e ferro para a construção e ainda pede ao seu povo para que doe também.
Davi, como nos relata Esdras em 1 Crônicas, estava à beira da morte, sabia que aquela missão era de seu filho. Por que, então, ele foi tão generoso?
Davi era homem segundo o coração de Deus (cf. 1Sm 13,14), homem que agradava o coração de Deus, escolhido dentre seus irmãos, aparentemente melhores que ele, humanamente falando. Davi sabia-se profundamente amado por Deus, como podemos ler nos salmos; experimentou a misericórdia e fidelidade de Deus frente a suas misérias e fracassos; Davi tinha um coração imensamente grato a Deus por ter provado Sua bondade, o cuidado e o zelo de Deus que inúmeras vezes o arrancou da morte e o livrou dos inimigos.
Por esses e por tantos outros motivos, Davi era tão generoso com Deus.
“Ora, quem sou eu, quem é meu povo, para sermos capazes de fazer tal doação? Foi porque tudo vem de ti e nós te damos o que de ti recebemos.” (1Cr 29, 14)
Davi tinha plena confiança de que tudo o que possuía tinha vindo de Deus, que nada era seu e que não tinha sido conquistado por seus próprios méritos. Antes de ser ungido rei era pastor de ovelhas (cf. 1Sm 16,11) e, muito provavelmente, não possuía muitos bens.
Você tem consciência de que Deus elegeu também você?
Sim, você é eleito de Deus, escolhido por Ele. A grande prova disso é a unção que você recebeu no dia do seu batismo.
Davi, quando eleito por Deus, foi ungido por Samuel.
“O Senhor disse: ‘Vamos, unge-o: é ele’. Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi.” (1Sm 16,12-13)
Essa mesma unção, podemos ver em Mt 3,16-17, quando Jesus foi batizado por João Batista:
“Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição.”
Pelo batismo, em Jesus, nos tornamos filhos amados de Deus, somos ungidos reis (Catecismo da Igreja Católica, § 1241) e nos tornamos participantes de todos os bens de Deus, herdeiros da salvação conquistada por Cristo na cruz.
Cada um de nós é profundamente amado por Deus e a grande prova disso é o fato de Ele ter entregue Seu próprio filho para nos salvar (cf. Jo 3,16).
Nós erámos merecedores do inferno e não do céu, devido aos nossos pecados. Contudo, porque Deus nos ama e Sua generosidade jamais se esgota, Ele conquistou o céu para nós enviando Seu Filho Jesus para morrer e pagar, em nosso lugar, por todos os nossos pecados.
“…O homem, na realidade, e também a sua descendência, devido ao seu pecado, mereceu ser condenado para sempre, juntamente aos anjos rebeldes (São Luís Maria Grignon de Montfort, O amor da Sabedoria Eterna).”
Isso vale muito mais que todos os bens que Davi tinha; vale muito mais que todas as toneladas de ouro, prata e bronze que possuía por ser rei.
Generosidade e gratidão
Nós precisamos ter um coração profundamente agradecido a Deus por todos os bens que Ele nos dá, principalmente por nos ter dado Seu Filho Jesus Cristo.
Nossa generosidade é fruto do amor de Deus manifestado em Jesus. Somos amados por Deus até o ciúme (cf. Tg 4, 5) e por esse amor devemos ser eternamente gratos a Deus.
Davi, como já vimos, manifestou sua gratidão a Deus doando seus bens para a construção do Templo.
Hoje, faço a você a mesma pergunta que Davi fez ao povo: “Quem, pois, está hoje disposto a fazer uma oferta ao Senhor?” (2Cr 29,5).
Você está disposto a fazer sua oferta a Deus? O que mais você pode ofertar a Deus e você não tem coragem?
Nossa oferta a Deus deve ser sempre feita com generosidade, cheia de fé.
Cada um de nós sabe o que deve ser ofertado a Deus, assim como Davi sabia que para a construção do Templo eram necessários recursos financeiros, mas nos falta, em muitos momentos, coragem, ousadia, fé, pois temos medo de que algo nos venha a faltar.
O que Deus seria capaz de nos negar se não nos negou Seu Filho?
“Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas que por todos nós o entregou, como não nos dará também com ele todas as coisas?” (Rm 8,32)
No evangelho segundo São Lucas, vemos a viúva que vai até o Templo e oferta tudo o que tem (duas moedas) para Deus (cf. Lc 21,1-4).
Papa Francisco, ao refletir este evangelho, nos ensina: “Esta mulher deu o pouco que tinha para viver porque confiava em Deus, era uma mulher das bem-aventuranças, era muito generosa: dá tudo porque o Senhor é mais que tudo.”
Convido você à mesma generosidade da viúva e à ousadia da pecadora que quebrou aos pés de Jesus um vaso de um perfume muito caro (cf. Mc 14,3), porque havia sido perdoada por Jesus e se sabia profundamente amada por Ele.
Tenhamos coragem de ofertar a Deus tudo o que temos, porque, afinal, tudo vem d’Ele e provemos a alegria que existe nos corações generosos!
Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator