Sabe quando achamos que a vida está sem graça, sem cor, quando os acontecimentos vão se sucedendo e parece que nada nos impacta de verdade? É como se tudo fosse ficar sempre assim. Vamos nos acomodando, acomodando… mas no fundo nosso coração deseja mais! Diante disso só nos resta clamar ao Espírito Santo: “Faz meu coração arder de novo!”.
O mundo não está fácil. As demandas são tantas que, em alguns momentos, o que mais queremos é simplesmente parar! Parar de fazer sempre as mesmas coisas, de resolver problemas, cumprir tarefas que não têm fim. Isso nos afasta de nós mesmos, das pessoas – especialmente as que convivem conosco – e de Deus. O coração vai ficando “como terra árida e sequiosa, sem água”, como diz o salmista (Sl 62, 2c).
Contudo, seguimos na vida com Deus – seguimos rezando por legalismo ou hábito, sem uma abertura verdadeira do coração – e nos habituamos a ela desse jeito; com o tempo o ardor do início já não é mais o mesmo e nossa vida espiritual vai minguando… as consolações que recebíamos de Deus já não acontecem, ao menos não com a mesma frequência e, como deixamos de recebê-las, temos a sensação de estarmos sozinhos.
Nesse distanciamento, nós deixamos de estar com Deus, primeiro no nosso coração e depois na dedicação do tempo que nos dispomos a estar com Ele – vamos diminuindo aos poucos até quase nada restar – envolvidos com muitos afazeres; mesmo que sejam lícitos e bons, estes passam a ser o centro das nossas vidas e só contribuem para a sequidão no nosso espírito.
Nesse contexto, quando rezamos parece que Deus nem escutando está, quem dirá falar alguma coisa, seja na Palavra, numa música, pensamento, sentimento, enfim… parece que Ele se ausentou. Rezamos porque sempre fizemos assim, dizemos que acreditamos, mesmo agindo como se não acreditássemos… É como caminhar num deserto… nosso coração fica como aquela terra que vai secando aos poucos, que só nos restam as rachaduras… uma aridez que nem sabemos precisar o tamanho!
Justamente quando sentimos nosso coração distante, seco, sem vida, é que precisamos nos voltar para Deus e clamarmos ao Espírito Santo!
Ao nos afastarmos de Deus, as coisas pioram, mas é preciso vigiar, porque, mesmo sabendo que não é bom estarmos distantes de Deus, vamos nos afastando, muitas vezes sem nem perceber, e vamos sendo vencidos pela falta de fé, pelo distanciamento da fonte de água viva.
O perigo de nos deixarmos levar pela aridez espiritual é nos distanciarmos tanto do caminho de Deus que, além de ficar difícil enxergá-lo em meio às dificuldades cotidianas, tarefas, alegrias mundanas, frustrações, comodismo, maus hábitos, vícios, podemos cair numa postura inerte e achamos que é assim mesmo, que não tem jeito. Mas precisamos resistir e fazer o ato de fé de crer que “A íntima relação com Deus, no Espírito Santo, faz com que o homem também se compreenda de uma maneira nova a si mesmo e à sua própria humanidade” (Dominum et vivificantem, 59).
Tendo uma visão cada vez mais clara de nós, sob o olhar de Deus, até mesmo os nossos cansaços e a ausência das consolações ganham sentido. Ainda que tenhamos a tentação de achar que Deus se ausentou, esse momento precisa ser para nós uma oportunidade de encontro com Ele, que é o nosso Pai e nos ama. Nada muda essa verdade! Não precisamos viver nada nas nossas vidas sozinhos! Deus está sempre ao nosso lado, pronto para fazer nosso coração arder de novo!
Por vezes nos acostumamos e nos adaptamos a essa aridez espiritual, vamos “tocando a vida do jeito que dá”. Sobretudo nesses momentos, é preciso uma boa dose de coragem para nos desinstalar! Esse passo é bastante paradoxal porque, para nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo, precisamos que Ele mesmo nos ajude. E para isso, meu irmão e minha irmã, é preciso algo que ninguém pode fazer por nós: acolher e aceitar essa condução do Espírito Santo! Só você pode dizer o seu “sim”, como só eu posso dizer o meu.
“Contudo o perseverar constantemente nas obras de santidade, o progredir fervorosamente na graça e na virtude, o esforçar-se generosamente por atingir o vértice da perfeição cristã, enfim o excitar, na medida do possível, os próximos a consegui-la, tudo isso não quer o celeste Espírito realizá-lo, se o homem não faz, dia a dia, com energia e diligência, o que está ao seu alcance.” (Pio XII, Mystici Corporis Christi, n. 85)
Assim sendo, irmãos e irmãs, não podemos nos deixar vencer pela aridez que tantas vezes ameaça ou até mesmo alcança o nosso coração. Voltemos nosso olhar para o Pai, caminhando com Jesus, conduzidos pelo Espírito Santo que nos inunda com a água da vida e faz ARDER em nós o fogo novo!
Orientando a comunidade dos Romanos, que passava por muitos conflitos internos e perseguições de toda ordem, São Paulo os exorta e anima: “Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Abá! Pai!” (Rm 8, 15).
Essa Palavra precisa estar diante de nossos olhos, nossos pensamentos, na nossa boca e sobretudo nas nossas atitudes diante de coisas, pessoas, situações e preocupações que tentam nos escravizar. Nós somos livres! Esse ato de fé nos leva a abrir o nosso coração ao Espírito Santo, que o faz arder de amor, disposição e alegria!
Mesmo em meio às maiores dificuldades, afinal, o fogo do amor que arde em nós pelo Espírito Santo purifica todas as coisas e, nessa liberdade, como o fogo, que sempre parece dançar e cantar, alegremo-nos também nós ao sermos conduzidos pelo Espírito Santo.
Água viva e fogo novo! O Espírito Santo é aquele que renova a vida em nós, que renova a nossa vida!
Para manter as portas do nosso coração abertas para que o Espírito Santo o faça arder, precisamos nos abrir para anunciar a alegria de sermos conduzidos por Ele.
Por fim, convido você para que, junto com Santa Elisabete da Trindade, clamemos ao Espírito Santo:
“Ó Fogo devorador. Espírito de Amor, “vinde a mim” para que se opere em minha alma como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para ele uma humanidade de acréscimo na qual ele renove todo o seu Mistério”. (Santa Elisabete da Trindade)
Carolina Vieira da Cunha
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator