Esperar na vontade de Deus

 

Em meio a esse mundo imediatista em que vivemos que parece exigir de nós um grau tão alto de autossuficiência, esperar em Deus se torna cada vez mais desafiante. Isso não é uma realidade exclusiva daqueles que não creem em Deus e que, portanto, acreditam que tudo depende somente de seus próprios esforços ou daquilo que chamam de destino. Nós, cristãos, mesmo tendo fé, também corremos um sério risco de vivermos como se tudo dependesse só de nós, muitas vezes, imersos em desesperos, pois estamos profundamente inseridos nesse mundo, respirando constantemente essa mentalidade atual. No decorrer deste texto, refletiremos sobre algumas passagens da história de Abraão, fazendo um paralelo com as questões da vida da maioria de nós. Você tem esperado na vontade de Deus?

O chamado de Deus

De forma muito semelhante, o Senhor chama a cada um de nós. A alguns, Ele chama ao sacerdócio, à vida religiosa ou à vivência como leigos consagrados em uma Comunidade e a muitos, certamente, à maioria, à vocação de leigos, pais, mães, casados e solteiros das mais variadas profissões e modos de vida. 

“O Senhor disse a Abrão: ‘Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar. Farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome, e tu serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem; todas as famílias da terra serão benditas em ti’” (Gn 12,1-3). 

Na passagem acima, retirada do Livro de Gênesis, pertencente ao Antigo Testamento, Deus faz um chamado a Abraão, que é seguido de uma missão e uma promessa. 

O chamado de cada um implica uma missão que é própria de sua vocação pessoal. E a todos nós, cristãos, foi dada a missão de ser “sal e luz no mundo”. (Cf. Mt 5,13-14). 

Todo chamado também vem acompanhado de uma promessa de Deus. E é sobre isso que eu gostaria de me deter um pouco aqui nesse texto. Eu não sei qual é a promessa pessoal que Deus tem para você, mas tenho certeza de que a promessa de Deus a seguir é para você, assim como para mim e para todos os que O seguem e respondem ao Seu chamado: E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna” (Mt 19,29). 

O maior desejo de Deus é que alcancemos a vida eterna! Porém, Ele também tem sonhos lindos e grandes para nós aqui nessa terra!

Você crê nisso? Consegue esperar as promessas de Deus? Diante da situação atual em que você vive, como você recebe essa Palavra divina? Como Nossa Senhora e Abraão, que se surpreenderam, mas acreditaram na promessa de Deus? Ou como Zacarias, pai de João Batista, que duvidou ou Sara, esposa de Abraão, que chegou a rir secretamente, diante de uma promessa tão grandiosa e extraordinária que parecia absurda, impossível de realizar-se?

As demoras de Deus

Após ouvir o chamado de Deus, Abraão crê, obedece e se coloca em caminhada rumo à Sua vontade. No início, com entusiasmo e cheio de fé, mas, logo, as tribulações surgem e as demoras em ver as promessas realizadas pesam. Porém, ele não perde a esperança. O Senhor caminha com Ele e mantém a Sua Palavra e a Sua promessa. 

A Esperança fortalece a fé. E “a fé é a garantia antecipada do que se espera, a prova de realidades que não se vêem” (Hb 11,1).

Precisamos permanecer firmes na fé e na esperança para que a falta de fé e a desesperança não nos desanimem diante das demoras de Deus. Caso contrário, “cansados de esperar”, poderemos pensar em desistir das promessas de Deus e “dar o nosso jeito”, criando “atalhos” para que as promessas se realizem mais rapidamente. É o que acontece com Sara, esposa de Abraão, cuja descendência Deus havia prometido a ambos. Sara se cansa de esperar e propõe a ele que tome sua escrava como esposa para que seu filho seja concebido, já que ela é estéril. E, então, nasce Ismael (Cf. Gen 16). 

Muitos de nós, descrentes e desesperançosos, criamos “atalhos” para antecipar a realização das promessas. Tentamos nos saciar com o “mais ou menos”, enquanto, na realidade, desejamos aquilo que seria capaz de nos preencher e trazer felicidade. O sonho de Deus para nós. Não sabemos o motivo dessas demoras, muitas vezes, nossas necessidades são reais e até urgentes. Mas Deus sabe de todas as coisas e nos sustentará até que as promessas sejam realizadas. Ele não somente deseja que amadureçamos na confiança e na esperança, como também não nos trata como crianças mimadas que não sabem esperar e querem receber tudo o que pedem imediatamente e que, na maioria das vezes, nem mesmo têm consciência do que estão pedindo. 

“A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão-de-vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma ‘prova’ das coisas que ainda não se vêem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro ‘ainda-não’. O fato de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras”. (Spe Salvi 7, Papa Francisco).

Esperar na fidelidade de Deus

Abraão permanece firme na esperança, contra toda a desesperança, até que um dia a promessa se cumpre. Isaac, então, nasce. Quando tudo, finalmente, parece resolvido, Deus pede a Abraão a entrega do seu próprio filho, provando, assim, a fidelidade e o amor de Abraão a Si e manifestando-Se também a ele em Sua Misericórdia, Fidelidade e Amor! (Cf. Gen 22). 

“Esperando, contra toda a esperança, Abraão teve fé e se tornou pai de muitas nações” (Rm 4,18). 

Contemplamos, então, a Fidelidade de Deus e a fidelidade do homem, que alegra o coração de Deus! Que sejamos nós também capazes de esperar e manifestar nosso amor e fidelidade a Deus nos momentos de contradição, dor e incerteza, já aqui na terra, ancorados no Céu, pela virtude da Esperança! “Esperança esta que seguramos qual âncora de nossa alma, firme e sólida, e que penetra até além do véu, no santuário onde Jesus entrou por nós como precursor, Pontífice eterno, segundo a ordem de Melquisedec” (Hb 6,19-20).

“Na verdade, é o Espírito Santo, com a sua presença perene no caminho da Igreja, que irradia nos crentes a luz da esperança: mantém-na acesa como uma tocha que nunca se apaga, para dar apoio e vigor à nossa vida. Com efeito a esperança cristã não engana nem desilude, porque está fundada na certeza de que nada e ninguém poderá jamais separar-nos do amor divino: ‘Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas em tudo isso saímos mais do que vencedores graças Àquele que nos amou. Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura nem o abismo, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, Senhor Nosso (Rm 8, 35.3739)’”. São palavras do Papa Francisco, retiradas da Bula da Proclamação do Jubileu da Esperança do ano de 2025.

Que o Bom Deus nos abençoe!

Adriane Megale Luz
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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