Em uma sociedade em que a atual cultura é conquistar o que se almeja de “mão beijada”, muitos acabam se frustrando ao encontrar dificuldades inesperadas no caminho. Não acham justo ter que se sacrificar para, só então, obter o prêmio tão desejado.
Creio que já vimos ou passamos por alguma dessas situações:
– Iniciar os treinos em uma academia com a intenção de ter uma saúde melhor, emagrecer e aumentar a autoestima. O desejo inicial é tão grande que a pessoa de imediato já fecha o plano semestral ou anual. O que geralmente acontece a seguir? É que, ao não perceber nenhuma mudança após uma semana de grande esforço e abdicação, nosso ímpeto começa a se esvair.
– Eu conheço uma pessoa que ao ouvir o relato de ciclistas em suas trilhas para contemplar o nascer ou o pôr do sol, ficou tão entusiasmada que comprou uma bicicleta no mesmo dia e todos os equipamentos para iniciar esse esporte. O que essa pessoa não colocou na ponta do lápis, porém, é que para chegar a esses espetáculos da natureza ela teria que desempenhar um grande esforço.
Que atire a primeira pedra quem nunca começou alguma coisa e no meio do caminho a deixou inacabada! A maior parte das pessoas não faz isso por mal, e aliás, sente-se triste com a falta de decisão. Talvez falte a todos nós experimentarmos a verdade de que as melhores coisas do mundo são aquelas obtidas por meio da luta e do suor.
O que é valioso, custa muito!
Não tenho dúvidas de que você conhece alguém (talvez até você mesmo) que já tenha olhado para o sucesso e as conquistas de outra pessoa e tenha chegado a dizer coisas como:
-O fulano tem sorte em conseguir trocar de carro…
-Tem sorte com os filhos obedientes…
-Tem sorte de comer e não engordar…
-Tem sorte em ter um empego bom…
E por aí vai.
Meus queridos leitores, a verdade é que raras são as ocasiões em que conquistaremos algo por mera “sorte”. Muitos dos nossos sonhos e desejos para serem tirados do papel precisarão de algo mais que apenas sorte. Quase sempre será preciso esforço, muitas lutas, algumas bem difíceis, diga-se de passagem, abdicações e até algumas lágrimas de cansaço.
O que vem fácil…
Na minha infância, eu não entendia muitas vezes o porquê de o meu avô, mesmo tendo boas condições, pensar tanto para adquirir algum bem. Essa é uma recordação muito viva em minhas lembranças!
Fui criada muito próxima aos meus avós paternos e não foi uma nem duas vezes que me senti injustiçada ao não ganhar algo que eles poderiam facilmente me dar. Ora, o brinquedo estava ali na vitrine, o dinheiro estava no bolso do meu avô, não era justo eu ter logo o que eu queria?
Seria mentira se eu dissesse que deixei de ter muitos brinquedos. Porém, eles só eram ganhados em situações específicas, isto é, quando eu fazia algo para merecer. Para ter a boneca, eu precisava fazer valer a conquista da boneca. Talvez algumas pessoas se escandalizem nos dias de hoje ao ler algo assim: “Que maldade, que relação de barganha!”
Mas o quanto eu sou agradecida aos meus avós por aquelas lições (que não eram tão compreensíveis na época). O ensinamento adquirido foi o de que é justo que as melhores recompensas só venham após o mérito. Assim como o trabalhador só ganha o salário após o mês de trabalho, e assim como o atleta só recebe a medalha após o esforço físico, da mesma forma as minhas conquistas precisavam (e precisam) ser precedidas pela justa batalha.
Nunca houve, em toda a história, tantos homens fracos e mulheres frustradas – e isso não é coincidência. Vivemos em uma realidade na qual o homem não tem mais forças para dar sua vida para algo, tem medo de se sacrificar por algum bem maior que o próprio conforto. Mulheres que, ao descobrir que não habitam em um “mundo encantado”, ficam perdidas e não conseguem se levantar para lutarem por seus sonhos e desejos.
Precisamos ser a geração dos homens e mulheres fortes!
Um sábio provérbio oriental nos lembra que: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”.
Esse ensinamento tem muito a nos dizer a respeito da nossa realidade atual. A primeira metade do século passado (tempo dos nossos avós) foi muito marcada pelos sofrimentos e pelas guerras, inclusive as guerras mundiais. As famílias tinham muitos filhos e a prosperidade material não era tão comum assim. Aqueles eram verdadeiros tempos difíceis!
Agora, tentemos comparar o nosso contexto atual (marcado pelos streamings e reality shows) com os tempos dos nossos avós e bisavós. Como eles conquistaram suas vitórias mesmo diante de todos os dramas? Certamente, não foi sem luta e sem suor.
Hoje entendo um pouco melhor o porquê meu avô pensava demais para adquirir algo ou se esforçava enormemente para conservar seus bens, por mais simples que fossem. No fundo, ele estava nos ensinando a valorizar os frutos das suas tão justas batalhas.
E encerro lembrando o mais importante: o maior de todos os tesouros é o Céu. Não são poucas as histórias de martírios na Igreja ou de pessoas que sacrificaram tudo pelo ideal da santidade. De fato, como bem nos lembra Santa Teresa D’Ávila: “é justo que muito custe, o que muito vale!”.
Que o bom Deus conserve sempre o nosso ânimo e nossa perseverança em todas as etapas da nossa vida.
Deus os abençoe!
Angélica Libório
Discípula da Comunidade Pantokrator