Poucas coisas são tão agradáveis como começar a fazer algo novo. Aprender uma nova língua, se matricular em um curso, iniciar uma rotina diferente, passar a frequentar uma academia… é gostoso sentir a ansiedade, calcular como estaremos daqui a um tempo e imaginar todos os benefícios do nosso novo projeto. Todos nós somos especialistas em “começar”! Isso é ainda mais acentuado nos dias de hoje, em que temos todas as possibilidades à nossa frente. Tenho um amigo que colocou em prática uma rotina de leitura; outro iniciou uma prática diária de oração; eu mesmo tenho minhas metas iniciadas…
“Começar” não é algo ruim. Ao contrário, o ser humano tem algo de dinâmico, de inquieto dentro de si. Somos criados à imagem e semelhança de Deus – que é Alguém muito ativo e criador. O grande problema, entretanto, é que muitas e muitas vezes os nossos projetos começados não são levados adiante, o que nos deixa um sentimento de fracasso ou de desilusão. Outras vezes, até insistimos teimosamente na continuidade das coisas começadas, mas nos tornamos presos a práticas sem sentido. Ou seja: não é raro que a empolgação do empreendimento inicial se transforme, algum tempo depois, em frustração.
Mas isso tem uma explicação. Vamos tentar compreender melhor.
PARE, RESPIRE E, POR FIM, COMECE…
Jesus Cristo nos deu um ensinamento muito interessante no Evangelho, a respeito do cuidado no momento em que se decide começar algo novo: “Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem com que acabá-la? Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele, dizendo: Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar” (Lc 14, 28-30).
Antes de começar algo novo, é conveniente calcular o tamanho das próprias pernas, a fim de não arriscar dar passos maiores do que consegue no momento. Nós temos um péssimo costume de nos esquecer que o dia tem apenas 24 horas, e que o ser humano saudável deve dormir de 06 a 08 horas por noite. Ora, se eu já não possuo tempo sequer para manter meus compromissos atuais, como quero agregar coisas novas? Portanto, a primeira pergunta que a pessoa deveria se fazer antes de “começar” é: “Eu terei condições de ir até o fim?”.
A segunda pergunta é igualmente importante: “Os benefícios valerão os esforços?”. Se este questionamento fosse feito de maneira frequente, tenho certeza de que muitos projetos inúteis seriam abandonados imediatamente. Conheço um amigo que iniciou um curso técnico, sob o argumento de que ele queria “preencher o tempo com algo útil”. Legal. O problema é que ele não gostava daquela área e não havia muita possibilidade de que aquilo fosse realmente agregar ao currículo dele. Com o passar do tempo, o curso se tornou um fardo pesado, cujos esforços já não valiam a pena.
Portanto, seria interessante começar algo que valesse realmente o esforço e coubesse em seu cotidiano. Um conselho prático: se você ainda não o faz, inicie uma vida de oração pessoal e diária; todos os que iniciaram esse empreendimento só obtiveram ganhos!
A PERSEVERANÇA NO “CONTINUAR”.
Se você, por acaso, costuma se sentir cansado e desanimado com alguns projetos em andamento, você não está sozinho: eu também sou assim, bem como os meus conhecidos e toda a “torcida do Flamengo”! A perseverança é uma virtude que precisa ser exercitada com bastante afinco e maturidade.
No entanto, é preciso fazer uma meditação corajosa e sincera: tal projeto já começado é digno de continuidade? A meditação deve ser corajosa porque muitas vezes você verá que não faz sentido continuar, o que significa que algum esforço pode ter sido em vão. E deve ser sincera porque as vezes você perceberá que precisa dar continuidade, apesar de a empolgação já ter ido embora.
Nem sempre o abandono de algo começado significa que a pessoa errou lá atrás. Às vezes ela não tinha condições de um bom discernimento no início, mas amadureceu no caminho. Conheço uma pessoa que, no segundo ano da faculdade, descobriu que não gostava daquela área. Ela precisou ter coragem e sinceridade para reconhecer os semestres “perdidos” e buscar sua verdadeira vocação profissional.
Talvez este seja um bom momento de você reavaliar todos os seus projetos em andamento. No que você tem investido seu tempo, seus esforços e recursos? Há pessoas que acompanham 10 séries de televisão ao mesmo tempo, o que lhes vale horas de conteúdo por dia; outras que gastam todas as suas horas livres em cursos aleatórios na internet, somente porque é “grátis”.
“Será que o livro que estou lendo me leva a ser de Deus ou ter boas virtudes?”
Está aí um bom parâmetro para quando houver dúvida sobre a continuidade de algo: esta coisa me leva a ser mais próximo do Senhor? Tem me tornado alguém mais santo? Lembre-se de que tais decisões devem ser tomadas sempre em constante oração!
“COMBATI O BOM COMBATE”: O CHEGAR AO FIM.
Não há sensação comparável com aquela de chegar até a última página de um livro; ou de receber o seu canudo de formatura ao final de longos e cansativos semestres; ou ainda de subir em uma balança e constatar que finalmente perdi o meu sobrepeso, que estava fazendo mal à minha saúde. É realmente um motivo de alegria conseguir perseverar em algo até o fim.
Mais do que isso: melhor do que terminar algo é poder dizer: “Valeu a pena!”. Seja lá qual for o seu projeto terminado, ele certamente exigiu algo de você. Se tiver sido o aprendizado de uma língua, você precisou quebrar a cabeça com a gramática e com custosas conversações; se tiver sido a criação de um filho, você passou incontáveis noites sem dormir e sacrificou muitos projetos pessoais. Geralmente o sentimento é unânime: eu faria tudo de novo!
Mas não nos enganemos: alguns dos projetos (os mais importantes deles) somente terminarão com a nossa morte. O projeto de uma vida de santidade, por exemplo. Alguns poderão questionar: “Mas de que vale batalhar tanto se a vitória não chega em vida?”. É aí que está: a vitória não chega NESTA vida. “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (I Cor 2,9).
Não corra o risco de lutar por coisas que não valham a pena no final. Eu tenho um conselho especial para você, que me acompanhou até o final do texto: entregue todos os seus projetos nas mãos de Deus. Ele nos conhece melhor do que nós mesmos e sabe o que deve ser começado e o que deve ser abandonado. Reze como Santo Tomás de Aquino, na oração dos estudantes: “Ensinai-me a começar, regei-me no continuar e no perseverar até o término”.
As melhores batalhas são aquelas travadas ao lado do Senhor. Os melhores sonhos são aqueles compartilhados com o Todo Poderoso. As melhores metas são aquelas desenhadas pelo Melhor Artista. Seja lá qual for o seu “começar”, o seu “continuar” ou o seu “terminar”, que tudo seja para a maior glória de Deus!
Salve Maria!
Rafael Aguilar Libório
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator