A Quaresma é um tempo litúrgico forte para os cristãos católicos, cuja duração possui 40 dias. O propósito desse tempo é estar mais unidos a Cristo, que foi por 40 dias tentado no deserto por Satanás. Sendo assim, fica claro que todos nós, chamados a entrar neste deserto com Cristo, também sofreremos tentações e que, portanto, uma batalha espiritual acontecerá dentro de nós.
Podemos dizer que o tempo todo estamos em batalha espiritual. Lembrando a Carta de São Paulo aos Efésios 6,12 que diz: “Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares”.
Somos o tempo todo rodeados por forças que não vemos, mas que tendem a nos influenciar ao pecado numa luta espiritual constante. Em relação a isso, não devemos temer, pois Cristo já nos lavou com Seu Preciosíssimo Sangue na Cruz e o mal não pode nos atingir, a menos que permitamos. Existe em nós um conflito causado pela tendência ao pecado, na qual, como diz São Paulo na Carta aos Romanos 7, 19, deixamos de fazer o bem que queremos e fazemos o mal que não desejamos. Temos boas intenções, mas nossa carne fraca é influenciável e por isso, precisamos estar sempre vigilantes contra as forças malignas sobre nós.
A busca perene de santidade, de intimidade com Deus através de uma vida de oração constante e frutuosa, a busca dos Sacramentos são exemplos de condutas que nos protegem contra as forças do mal. Estas desejam a nossa morte eterna, que percamos nossa fé e deixemos de lado as coisas de Deus, as coisas do Céu. Cristo já venceu o mal de uma vez por todas, mas a escolha de não deixar com que ele entre em nossos corações é exclusivamente nossa.
Na Quaresma somos chamados a combater em nós os vícios e pecados conhecidos, assim como Cristo combateu as tentações no deserto, a fim de viver uma Páscoa de renovação, momento em que a Quaresma se encerra. Mortos para o pecado, nascemos para a vida em Deus, como diz São Paulo na Carta aos Romanos 6, 11. Mas, por que parece que na Quaresma somos mais tentados? Por conta da decisão, do propósito de vida nova.
No momento em que nos decidimos a mudar e começamos uma empreitada de conversão de vida, somos atacados pelas forças do mal. Elas atuam de inúmeras maneiras e são especializadas em agir sem que percebamos, sugerindo ideias, sentimentos, distorcendo fatos e nos contando mentiras que podem nos levam a deixar nossos propósitos de lado e voltar atrás, rumo ao pecado.
Mesmo Cristo, sendo o Filho de Deus, foi tentado; portanto, o mesmo acontece conosco. Nesse sentido, é preciso que deixemo-nos moldar pelo espírito de Cristo no deserto, que lutou com a força da Palavra contra o mal. Nós temos muitas “armas” para essa luta, como dissemos anteriormente; basta-nos a humildade e a sabedoria de imitar a Cristo.
Por fim, é preciso que utilizemos da força de nosso Batismo nessa luta também, seja na Quaresma ou não. Neste Sacramento recebemos a vida divina em nós, temos nossa vida enxertada em Cristo como filhos de Deus e recebemos três dons (ou virtudes) chamados teologais, que nada ou ninguém pode nos tirar: a fé, a esperança e a caridade. A fé nos ajuda a acreditar em Deus e em tudo o que Ele nos revelou; a esperança nos faz desejar o Céu com confiança nas promessas de Deus; e a caridade nos leva a amar a Deus sobre todas as coisas.
Que nossos corações estejam abertos e sedentos de conversão constantemente na luta contra o pecado e àquilo que fere o coração de Deus. Que saibamos utilizar com sabedoria os dons teologais para dar à Deus, com todo amor, nosso coração resoluto e decidido por ser de Deus e de Deus somente.
Luciana Ronqui
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator