A Bíblia nos conta a história de Moisés, que teve a missão de resgatar o povo eleito no Egito. Narra também a história de Davi, que teve a missão de derrotar um gigante e depois governar Israel. Há também as histórias de Elias, Daniel, Ezequiel e João Batista – todos eles com missões grandiosas e sagradas.
Porém, muitos de nós podemos olhar para a nossa própria vida e a encarar com certa frustração: nada de mar se abrindo ao meio, nada de reinados, leões ou carruagens de fogo. Somente… uma vida comum. Será que apenas algumas pessoas foram feitas para as grandes missões, ao passo que as outras existem para ser meras coadjuvantes?
Na verdade, o mundo nos ensina a nos preocuparmos com quase tudo, menos com as coisas realmente importantes. Desde cedo somos bombardeados com perguntas como: “O que você quer ser no futuro?”; “O que vai fazer quando terminar a escola?”; “Quais os países que quer conhecer até os 40 anos?”. Mas raramente somos surpreendidos com questões profundas como: “Se a morte aparecesse hoje, você estaria preparado?”.
Poderíamos refletir e escrever páginas e páginas a respeito do chamado de cada um. Mas, para resumirmos a conversa: sim, cada um de nós recebeu uma missão individual e intransferível. Significa dizer que ninguém pode fazer aquilo que apenas eu fui designado a realizar. E isso é algo importantíssimo!
MAS O QUE DEUS PODERIA QUERER DE ALGUÉM COMO EU?
Receber uma missão é o mesmo que ser enviado para alguma tarefa. Existem tarefas mais difíceis e arriscadas, como pedir que alguém opere o seu problema cardíaco. Existem outras que são mais simples e corriqueiras, como pedir que o seu filho arrume o próprio quarto. Seja uma ou outra, sempre existe uma pessoa que confia um trabalho e outra que recebe uma incumbência a ser feita.
Neste ponto, é crucial entendermos uma coisa: Deus é infinitamente Poderoso e pode realizar qualquer coisa em um piscar de olhos. Deus não precisaria delegar missões a ninguém, nem aos próprios anjos. Mas, em razão da Sua infinita misericórdia, Ele quis precisar das pessoas. Jesus poderia ter vindo ao mundo de mil maneiras diferente, mas quis depender do “sim” da Virgem Maria.
Essa reflexão é indispensável. Afinal, precisamos tomar consciência de que Deus não nos deu uma missão porque somos bons ou porque fizemos por merecer. Ao contrário, ainda que não exista nenhum talento aparente em você, o Senhor te escolheu mesmo assim. Porque Ele não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos!
FOMOS DESTINADOS PARA ALGO GRANDIOSO!
Tendo isso em mente, precisamos compreender que a nossa missão não é “coisa pequena”. Não é algo que foi feito para acabar. Deus, que é eterno, nos quer vivendo a eternidade junto com Ele. Perceba que o Senhor não quer que você faça um simples “favor” aqui na terra e pronto.
O que Deus desejou para nós é a vivência maravilhosa do Céu. Ele quer “que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2,4). A Igreja é muito clara ao afirmar que “os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (Lumen Gentium, nº 40).
Em outras palavras, nós nascemos para a santidade, para fazer a vontade de Deus e, no meio deste processo, alcançarmos a maior realização das nossas almas! Lembre-se: Deus não precisaria de nós, mas Ele nos atrai mesmo assim porque somos nós que precisamos Dele. Como diz o salmo, nossa alma tem sede do Senhor, como a terra tem sede da água (Sl 62).
É tão bom sabermos que a nossa missão não depende dos outros… Já pensou se a missão da sua vida fosse ser rico? Você viveria com medo de ladrões. Já pensou se a sua missão fosse ter o corpo mais atlético e escultural? Você ia lutar inutilmente contra a idade. E se a sua missão consistisse em ter grande fama? Você poderia perder tudo por conta de calúnias.
Não é à toa que o Cristo ensinou: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam” (Mt 6, 19-20).
CUMPRIR NOSSA MISSÃO É ALCANÇAR A VERDADEIRA ALEGRIA.
É por isso que não existem santos tristes. Mesmo aqueles que perderam tudo, estavam seguros de que eram verdadeiramente vitoriosos (pois completaram sua missão!). Mesmo aqueles que foram torturados e jogados às feras, deixavam seus torturadores boquiabertos pela imensa paz que experimentavam.
A grande verdade é que nós, seres humanos, vivemos inquietos o tempo inteiro. É como se estivéssemos procurando algo sem saber ao certo o quê. Já teve a experiência de abrir várias vezes a geladeira mesmo sabendo que não tem nada lá? Esses somos nós, com as nossas almas gritando para que corramos em direção à nossa missão vital de sermos santos.
Já dizia o grandioso Santo Agostinho, nas suas Confissões: “Fizeste-nos, Senhor, para vós e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em vós”. Do mesmo modo, é lindo de ver as palavras finais de São Paulo, depois de ter passado anos lutando pela sua missão: “Combati o bom combate, terminei a minha corrida, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia” (II Tm 4, 7).
Quanto a nós, que o Espírito Santo possa nos convencer de que não somos meros coadjuvantes neste mundo caótico. Somos únicos, irrepetíveis e feitos para sermos filhos do Altíssimo – vivendo e se alegrando com Ele por toda a eternidade. Não há missão mais importante e mais maravilhosa!
Que a Virgem Santíssima nos ajude sempre neste caminho.
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator