Se tem uma coisa que atrai a misericórdia de Deus é a oração de um coração humilde. “A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo. 35, 21).
Ao contemplarmos as Sagradas Escrituras vemos inúmeras passagens em que o humilde, o pequeno, a criança são exaltados. Diferente do que testemunhamos no mundo moderno, a fragilidade não é um problema, mas sim um caminho para alcançarmos a misericórdia de Deus e toda a sua potência transformadora.
Podemos recordar a parábola do fariseu e do publicano. Os dois subiram ao templo para orar, mas somente um se colocou na posição de necessitado e foi justificado. Vemos que o fariseu de pé se gabava das suas ações desprezando o outro: “Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões, desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. Eu jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda” (Lc. 18, 11).
Já o publicano tinha consciência dos seus pecados: “O cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!”
Como temos nos colocado diante de Deus?
Muitas vezes, podemos cair na mesma atitude do fariseu. Quando somos orgulhosos, confiamos nas nossas próprias forças e não damos espaço para que Deus realize em nossa vida. O orgulhoso não se enxerga como necessitado, ele se basta, acredita que está pronto. Cai na tentação de resolver tudo sozinho, não pede ajuda, não se submete à vontade Deus. “O início do orgulho no homem é renegar a Deus, pois o seu coração se afasta d’Aquele que o criou” (Eclo 10, 14-15).
O Catecismo da Igreja Católica vai dizer: “Há duas espécies de presunção: o homem ou presume das suas capacidades, esperando poder salvar-se sem a ajuda do Alto, ou presume da onipotência ou misericórdia divinas, esperando obter o perdão sem se converter, e a glória sem a merecer” (1).
Podemos cair em um círculo vicioso. “Quando se rebela contra Deus, o homem fica fechado no círculo do seu ‘eu’, no culto do egoísmo. Tudo gira à volta dele, e não aceita interferências. Essa independência de Deus é destrutiva, porque corta a conexão vital com Aquele que é a fonte do ser, da vida, do bem, da bondade, da graça… e, assim, com diz o teólogo, o homem “se condena ao absurdo, pois uma liberdade sem Deus só pode destruir o homem” (2).
Reconectando a graça
Ao contrário, quando reconhecemos a nossa fragilidade, permitimos ser alcançados pela misericórdia, como ensina Santa Teresinha do Menino Jesus, em sua Pequena Via. Ela foi a cantora das misericórdias de Deus.
“A santidade não é esta ou aquela prática, mas consiste numa disposição do coração que nos faz humildes e pequenos nos braços de Deus, conscientes de nossa debilidade e confiados até a audácia em sua bondade de Pai” (3).
Sim, nos abandonamos confiantes nos braços do Pai, reconhecemos a Sua Soberania sobre todas as coisas. Ele nos eleva à Sua Dignidade, nos sacia e nos impulsiona a progredir.
“Na terra boa da humildade, todos os dons de Deus dão fruto. Na terra boa da humildade, todas as virtudes podem ser plantadas e crescer sadias, sem medo de pragas que as devastem; na terra boa da humildade, todos os erros podem ser reparados e as perdas resgatadas. E acabam assim desabrochando em frutos agradáveis a Deus e ao próximo (4).
Deus abençoe!
Andressa Aparecida da Silva
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator
Referências
- Catecismo da Igreja Católica, 2092.
- A Conquista das Virtudes, p.50.
- Obras completas. Últimas conversações, pág. 1397.
- A Conquista das Virtudes, p 53.