A força de um propósito

Onde está e qual a intensidade da força de um propósito em nossa vida? Quantos foram feitos na virada do ano e quantos já foram abandonados ou esquecidos?

Quantas vezes fazemos propósitos que dependem dos outros e nos frustramos, enquanto eles deveriam depender somente de nós, pois só podemos garantir aquilo que está sob o nosso controle e a única coisa que está, de verdade, é a nossa resposta diante da vida.

A resposta dos outros, a situação do país, os rumos da sociedade não estão sob o nosso controle, porém nossa atitude e pensamento deveriam estar, pois Deus nos deu o livre arbítrio. Os nossos traumas não podem definir nosso futuro a não ser que nós deixemos.

Penso que a força que temos está naquilo que acreditamos e sua intensidade naquilo que esperamos. Isso nos faz perseverar ou desistir.

Há cinco anos atrás fiz o propósito de rezar o rosário diariamente e não dormir sem concluí-lo. Um dia apenas me esqueci que não tinha rezado o último terço, percebi somente no dia seguinte, fora esse dia, tenho tido a graça de cumpri-lo. Falo da graça porque é, pois descobri que tenho um temperamento fleumático-sanguíneo que não me favorece a perseverança!

“Levantar-se-ão muitos falsos profetas e seduzirão a muitos. E, ante o progresso crescente da iniquidade, a caridade de muitos se esfriará. Entretando, aquele que perseverar até o fim será salvo.” Mt24,11-13

Se nosso corpo não for treinado antes de uma maratona, jamais conseguiremos chegar ao final dela. Assim também acontece com nossa alma, se ela não for treinada, dia após dia, não resistirá ao percurso da prova.

Eu posso controlar meu esforço de treinamento, mas não as condições do tempo ou os dos outros companheiros que correm comigo. Muitas vezes nos distraímos e desperdiçamos energia vital preocupados com aquilo que não podemos controlar e acabamos negligenciando o que podemos.

Planejemos nosso trajeto, aquilo que de nós depende, tracemos nossos planos, façamos nossos propósitos visando um objetivo verdadeiro e bom. Saber onde se quer chegar é essencial para que os propósitos funcionem adequadamente, como metas propulsoras que nos levarão a atingí-los.

Se falhamos em nossos bons propósitos, os maiores prejudicados somos nós mesmos! Por isso precisamos cuidar melhor de nossa própria vida, correr atrás daquilo que tem nos desviado ou atrapalhado nosso percurso rumo ao nosso objetivo e resolvê-lo da melhor forma. Quem está empenhado em multiplicar os talentos que Deus lhe deu, não tem tempo para ficar pajeando os talentos dos outros!

Se fazemos muitas críticas, procuramos defeitos e erros em tudo e em todos, estamos nos distraindo de nossa própria vida e conversão. A conversão do meu irmão depende da minha. Deus tudo ligou com o vínculo da caridade, o amor é a única coisa que constrói de verdade qualquer realidade.

“Deus é amor”. 1 Jo4,8

Se a força do nosso propósito não estiver no amor e a nossa esperança na graça, tudo se esvai, porque só Deus é. Se estivermos nEle, temos a fonte de toda força e perseverança!

O Amor criou o universo com todos os seus seres e os sustenta. Se entrarmos nesse fluxo, nessa conexão, nossa força será inabalável: nenhum mal nos resistirá, nenhum acontecimento nos abalará a ponto de desistirmos, nada perturbará nosso propósito de vida, ao contrário, o fortalecerá ainda mais.

Esse é o poder dos que se sabem e se comportam como filhos de Deus, pelo Espírito Santo que habita em nós!

O problema é que tendemos a nos esquecer disso tudo e acabamos agindo segundo nossos próprios desejos e vontades, fragilizados, deturpados, desviados… e qualquer contrariedade vira motivo para desistirmos e colocarmos a “culpa” na situação ou “no outro”. Precisamos não ter medo de assumir a responsabilidade de nossa própria vida!

Que um propósito para este ano seja deixarmos nossa postura de vítimas da vida, de controladores da vida alheia e nos voltarmos para o que é de nossa responsabilidade de fato: nossa própria conversão!

Os santos assim fizeram e transformaram muitas realidades no mundo, vivendo cada um sua própria vida de maneira responsável e entregue a Deus. Santa Teresinha é um belo exemplo disso! Sua vocação vivida na autenticidade, escondida numa clausura, atingiu o mundo todo e de forma perene.

Quando ela deixou de ser a vítima de sua vida, curada pelo sorriso de Nossa Senhora e pela graça do Natal, expandiu-se de forma extraordinária e deu o espaço necessário para que Deus realizasse nela sua Santa vontade!

E qual era a vocação de Sta. Teresinha? A mesma que, na verdade, é a base da vocação de todos nós!

“A minha vocação é o amor!” Man. C

Que nossos bons propósitos para 2024 e para a nossa vida obtenham a força e a perseverança da Fonte de todo o Bem!

Rosana Vitachi
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator