A Igreja Católica tem milhares de santos canonizados. São pessoas dos mais variados temperamentos, nacionalidades ou classes sociais. E eu posso garantir – apoiado por diversos teólogos – que pouquíssimos são tão luminosos e impressionantes como Santa Teresa D’Ávila.
Teresa não foi uma personagem qualquer. Foi uma mística da mais alta consideração, cujos ensinamentos e exemplos serviram para ensinar muitos santos a rezarem. Ou seja, é uma mestra de santidade. Não é nenhuma surpresa que ela tenha sido elevada ao seleto grupo dos Doutores da Igreja.
Um erro que muitos cometem é olhar para esta grande santa apenas como uma figura histórica, que teve certa importância “em sua época”. Nada mais equivocado do que isso! A grande madre de Ávila continua inspirando gerações e tocando as almas. Séculos depois da sua morte, ela continua viva como instrumento de conversão – e nós precisamos nos aproveitar disso.
TERESA ERA GENTE COMO A GENTE
É muito fácil cairmos no erro de olhar para Santa Teresa como alguém inalcançável. De fato, ao contemplarmos a última etapa da sua vida, vemos coisas extraordinárias como as grandes visões, a levitação no momento de comungar e até o dom de ver as almas indo ou saindo do purgatório. Não são coisas familiares a quase todos nós.
No entanto, a grande beleza em Santa Teresa é a sua história de conversão. Não que ela fosse uma pecadora escandalosa – pelo contrário, muitos biógrafos afirmam que não é possível vislumbrar qualquer pecado mortal em sua história de vida. Mas, pelo menos antes dos seus 39 anos, Teresa não era nem de perto a santa que hoje conhecemos.
Teve uma infância comum, com muitos irmãos e com pais piedosos. Ela própria conta uma história curiosa sobre quando ainda era uma menina: disse ter ouvido falar sobre o Reino dos Céus e isso a encantou. Só de imaginar que o Céu era “para sempre, para sempre” (como gostava de repetir), ficava entusiasmada. Até que um dia resolveu fugir de casa com um dos irmãos para irem até a terra dos mouros (muçulmanos), pois queria morrer mártir e ir logo ao Céu. Mas os dois pequenos fugitivos foram apanhados por um tio ainda dentro da cidade.
A jovem Teresa teve uma adolescência comum: se apaixonou, dançou, sorriu, fez diversas amizades… Inclusive foi neste contexto que se apegou aos livros de romance da época (o que seria as nossas novelas de hoje). Aliás, posteriormente, ela percebeu que nem tudo o que leu foi bom e que isso chegou a atrapalhar seu caminho espiritual.
Não parece ter sido fácil ao pai de Teresa controlar a sua bela filha adolescente (nesta época, Teresa já havia perdido a mãe). Para separá-la de más companhias, principalmente de uma prima com comportamentos suspeitos, o pai precisou mandá-la para estudar em um colégio de religiosas.
A personalidade da santa sempre foi vigorosa, fazendo jus ao efervescente sangue espanhol. Santa Teresa era engraçada, comunicativa e com uma vontade ardente (fator que seria determinante na sua santificação). Conforme se nota, a jovem Teresa possuía uma vida como a de muitos de nós.
O LONGO PROCESSO DE CONVERSÃO
Este pequeno texto, infelizmente, não permite contar todos os pormenores da vida de Teresa – o que pode ser encontrado facilmente em biografias ou no “Livro da Vida”, escrito pela própria Santa. O que é importante mencionar é que a nossa Teresa entrou para a vida religiosa no Carmelo aos 20 anos de idade.
Mas ela ainda não era santa. Só viria a entrar na “fase mística” da sua vida aos 39 anos. Ou seja, entre o começo da sua vida religiosa e a sua profunda conversão levou quase 20 anos! Eu não sei para você, que lê este texto, mas para mim essa é uma informação tocante. Tantos de nós nos desanimamos com a demora da nossa conversão… A vida de Santa Teresa é um convite a termos paciência e perseverança na busca da santidade!
Durante essas quase duas décadas a vida espiritual de Teresa era bastante inconstante. Ela até fazia propósitos de melhorar e ser toda de Deus, mas às vezes caía em períodos de crise e abandonava a oração. Mais uma vez, é preciso insistir: a grande Santa Teresa, Doutora da Igreja, não nasceu santa e nem se santificou com um estalar de dedos.
Mas o que fez, finalmente, com que ela adentrasse essa fase extraordinária da santidade? Qual a fórmula para abandonar a “vida velha” e se converter definitivamente? A própria Santa Teresa nos conta isso em seus livros. O grande segredo é algo relativamente simples: cultivar uma profunda e frutuosa vida de oração.
Parece mentira que o segredo da santificação seja algo tão “banal”, mas a vida de Santa Teresa é prova disso. É evidente que ela não está falando de orações superficiais, mecânicas e desatentas. Ela está falando sobre nós pararmos as agitações cotidianas e nos encontrarmos (todos os dias!) intimamente com aquele que é o nosso amigo.
A FORÇA DE SANTA TERESA ESTÁ NA SUA “DETERMINADA DETERMINAÇÃO”
Apenas um trecho escrito pela Santa nos ajudará a perceber a importância de perseverar na oração: “[…] Digo que importa muito ter uma grande e muito determinada determinação de não parar enquanto não alcançar a meta, surja o que surgir, aconteça o que acontecer, sofra-se o que sofrer, murmure quem murmurar, mesmo que não se tenham forças para prosseguir, mesmo que se morra no caminho ou não suporte os padecimentos que nele há, ainda que o mundo venha abaixo…” (Caminho de Perfeição, 21, 1-2).
Esta é a mulher forte indicada pelas Escrituras! Se formos fiéis na oração e cultivarmos um verdadeiro amor por Jesus, podemos ter certeza de que Ele nos ajudará em nosso caminho de santificação. Ele ajudou Teresa, e através dela tem ajudado muitos outros cristãos.
Que Santa Teresa interceda por nós e nos ensine a trilhar o verdadeiro caminho de perfeição.
Rafael Aguilar Libório
Consagrado da Comunidade Católica Pantokrator